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domingo, junho 06, 2010 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Aprendi a confiar em Deus e a desconfiar do homem. Isto porque Deus é perfeito, ao contrário do homem que é falho por natureza. E em sendo a ciência uma invenção humana, esse raciocínio me levou a desconfiar da ciência também.

Mas não me parece que essa desconfiança seja ruim. É bom desconfiar da ciência, e explico-me: Assim como ocorre com o ser humano, a ciência não tem propósito. Isso mesmo. A ciência, em si mesma, não tem propósito. Ela é uma ferramenta e o seu propósito é o propósito de quem a utiliza. Há quem faça bom uso dela e há quem não o faça. E como aprendi a desconfiar das intenções humanas, sou levado a desconfiar da ciência que eles fazem.

Além disso, é comum a confusão entre "fazer ciência" e "possuir titulação acadêmica". Ciente disso, a mídia explora a figura de médicos e profissionais qualificados em comerciais que promovem creme dental, shampoo, sabão em pó e seja lá o que for. Nesses casos, o que se tem em vista não é a divulgação da ciência e sim a exploração da confiança cega que grande parte da audiência deposita nela para vender um determinado produto. Essa estratégia parece funcionar, a julgar pela quantidade de comerciais que exploram essa abordagem. E ela só funciona porque muitos confiam na ciência, sem sequer saber a distinção entre um médico e um cientista. Por essas e outras, continuo desconfiando da ciência, por desconfiar dos homens que a usam e manipulam como instrumento de trabalho.

E deixando de lado o uso (às vezes inapropriado) da ciência enquanto ferramenta de trabalho, é importante lembrar que a ciência só funciona porque não se confia nela. Pode parecer paradoxal, mas se confiássemos na ciência não faríamos ciência e sim religião. Religião é a arte de confiar; ciência é a aptidão para a desconfiança. E por não confiar, a ciência exige provas e não fé. A confiança é demasiadamente passiva para levar ao esclarecimento.

Mas confiar é preciso!

De certa forma, foi a confiança que tornou possível a civilização. Precisamos confiar no diagnóstico do médico que nos examina e na opinião do mecânico que revisa nosso carro. Não dá para saber tudo sobre tudo, então, a alternativa viável é confiar. E se confio em alguém, aceito o que ele me diz como sendo uma verdade. O problema desse sistema baseado na confiança é que posso ser induzido a equívocos, ainda que a pessoa em quem deposito minha confiança não seja mal intencionada. É como dia a Bíblia: "maldito o homem que confia no homem" (Jeremias 17:5).

Desconfiar também é preciso!

Mas fazer ciência não é desconfiar por desconfiar. A ciência segue um método, ou melhor, vários métodos, mas todos eles embasados em duas características comuns: o empirismo e a crítica (a tal desconfiança permanente). Por que o céu é azul? Por que, ao soltar um objeto, ele cai em direção ao solo? É o sol que se move ao redor da terra ou o contrário? Por que existe algo e não o nada? E o cientista observa, coleta informações, conduz experimentos, coleta dados, tenta reproduzir os mesmos efeitos em laboratório, acata e descarta hipóteses e segue em busca de respostas.

Recomendo que desconfiem da ciência, pois ela é falha. Lembrem-se de que algumas verdades científicas perderam esse status diante de novos avanços da própria científicos. É a ciência sendo usado como instrumento para se corrigir e melhorar. Ora, se ela fosse perfeita, não precisaria de correção, não é mesmo? Com efeito, em determinadas áreas do saber, parece-me difícil afirmar que a ciência chegou ou chegará ao pleno conhecimento da verdade. Ela está sempre se aproximando...

Recomendo que desconfiem da ciência, pois ela é imperfeita. Mas, justiça seja feita, ela é o melhor que o gênio humano conseguiu elaborar para compreender este universo do qual fazemos parte. Desconfio, sim, da ciência, mas aprendi a admirá-la e vou lhe dizer o por quê.

Nós temos hoje uma vida que, há duzentos anos, não era sequer sonhada por reis e rainhas: automóveis, aviões, casas confortáveis, computadores, telefonia celular, internet, produtividade no campo, medicina avançada e por aí vai. Em decorrência disso, a expectativa de vida vem subindo gradativamente e a qualidade de vida também. Isso se observa a cada nova geração: eu vivo hoje em condições mais favoráveis que meu pai, quando ele tinha a minha idade. É a ciência promovendo a vida humana.

Mas há quem pense de forma diferente. Há quem queira intervir dizendo que a ciência tornou possível a bomba atômica. A esses eu afirmo que, infelizmente, a política e os políticos não conseguiram acompanhou o avanço da ciência, o que é uma pena...
segunda-feira, fevereiro 23, 2009 | Autor: Ebenézer Teles Borges
O título desta postagem foi extraído de um artigo publicado pela Folha de São Paulo em 22/02/2009. O autor é o conhecido brasileiro e professor de física teórica Marcelo Gleiser.

Reproduzo, abaixo, partes desse artigo (destacando alguns pontos em negrito). Mais abaixo, disponibilizo links para aqueles que desejam ter acesso ao texto na íntegra.

"Como escrevi em colunas recentes, neste ano celebramos dois grandes aniversários. O primeiro, o bicentenário do nascimento de Charles Darwin e o sesquicentenário da publicação de seu revolucionário "A Origem das Espécies". O segundo, os quatrocentos anos da publicação do livro "Astronomia Nova", em que Johannes Kepler mostrou que a órbita de Marte é elíptica, inferindo que todas as outras seriam também. No mesmo ano, 1609, Galileu Galilei apontou o seu telescópio para os céus mudando a astronomia para sempre.

Em ambos os casos, as descobertas científicas criaram sérios atritos com as autoridades religiosas. Atritos que, infelizmente, sobrevivem de alguma forma até hoje, principalmente com as religiões monoteístas que dominam o mundo ocidental e o Oriente Médio: judaísmo, cristianismo e islamismo. O momento é oportuno para iniciarmos uma reavaliação das suas causas e apontar, talvez, resoluções. (...)

O mundo mudou, a sociedade mudou, a religião também deve mudar.

Insistir na rigidez da ortodoxia é condenar a congregação a viver no passado, numa realidade incompatível com a sociedade moderna. Se o pastor ou rabino ortodoxo tem câncer e recebe terapia de radiação, ele deve saber que é essa mesma radiação que permite a datação de fósseis com centenas de milhões de anos. É hipocrisia aceitar a cura da radiação nuclear e ainda assim negar os seus outros usos.

Fechar os olhos para os avanços da ciência é escolher um retorno ao obscurantismo medieval, quando homens viviam suas vidas assombrados por espíritos e demônios, subjugados pelo medo a aceitar a proteção de Deus. A escolha por uma devoção religiosa - se é essa a sua escolha - não deveria ser produto do medo."

Para mais detalhes acesse:

1. Folha de São Paulo: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2202200902.htm
2. Reprodução do mesmo artigo no site da IHU - http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=20170
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