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quarta-feira, setembro 07, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
O Brasil completa hoje 189 anos de independência. O país comemora... ou será que não? Não tenho certeza. Talvez seja mais correto afirmar que o país parou, hoje, em memória ao ato de D. Pedro I, ocorrido no século XVIII, de declarar-se independente da coroa portuguesa. É curioso notar que, no Brasil, a independência foi produto de uma declaração. Não houve guerra, não houve revolução, não houve comoção popular... não houve mudança.

Independência, no meu entender, envolve ruptura com o passado e a introdução de mudanças que se aprofundam com o passar do tempo.  É certo que o Brasil de hoje é, em muitos aspectos, diferentes daquele que existiu na primeira metade do século XVIII. Com efeito, o mundo como um todo mudou e as sociedades que nele convivem evoluíram, incluindo aí o nosso país. Mas no Brasil, as mudanças quase sempre implicam em continuísmo. Mudam-se os atores, mas o palco permanece o mesmo. Outras vezes o palco é reformado, mas não o elenco que nele encena. Há raros casos em que palco e elenco se renovam, mas, nesse caso, para nosso desalento, a peça representada se mantém imutável. Esse é o velho enredo que se repete nesta terra, no país onde mudança não costuma ser sinônimo de transformação. Que pena!

Dizem por aqui que Deus é brasileiro. Balela, invenção, boato falso, mentira deslavada. Não pode ser! Deus, se é que Ele nasceu em algum lugar, provavelmente o fez antes de 1822, tanto é verdade que as naus de Cabral trouxeram em seu bojo alguns emissários divinos, os jesuítas, com a importante missão de convencer os nativos de que Deus já havia nascido em outro lugar. E eles até tentaram, mas os nativos ou não estavam interessados em ouvir ou eram um bando de cabeças duras. Fato é que ainda hoje se diz por aqui que Deus não existia antes de 1822, nasceu no Brasil e que a cidade de Belém, citada na Bíblia, fica no Pará. Dá pra acreditar?

E antes que pensem que estou "descendo o pau" no Brasil, é preciso que se registre aqui que gosto desta terra e de ser brasileiro. É fato que nunca pus o pé em outro país, nem mesmo no Paraguai, e, de igual modo, nunca possuí outra nacionalidade. Mas pelo que leio, vejo, ouço e assisto, o Brasil está longe de ser o melhor país do mundo. Se Deus fosse brasileiro, poderoso do jeito que Ele é, é razoável supor que nosso IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) fosse  mais elevado, não acham?

Deus, pelo que dizem, não gosta de corrupção, e essa praga viceja aqui como se fosse capim. Nasce em todo canto e cresce como praga. O "jeitinho brasileiro" é conhecido em todo mundo! Definitivamente, Deus não pode ser brasileiro!

Mas deixemos Deus de lado e voltemos ao tema desse texto, a independência do Brasil. Dizem os livros que D. Pedro I estava em uma encruzilhada: era independência ou morte. Balela novamente, tanto que ele não escolheu nem um nem outro, apenas balbuciou algumas palavras e foi se aliviar, já que estava com uma tremenda diarreia. Conclusão: O Brasil se declarou independente, mas continuou nas mãos da mesma alcateia; não morreu, mas também não chegou a viver em sua plenitude.

E viva o Brasil!
sábado, julho 23, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Ontem à noite recebi uma ligação telefônica informando-me sobre o falecimento de um tio paterno. "Ele se foi...".

E quem era ele?

Em um país cuja população beira duzentos milhões de pessoas e num planeta que abriga quase sete bilhões de habitantes, ele era o que eu e você ainda somos: muito pouco. Todo dia uma multidão anônima nasce e outra perece. Meu tio foi contado entre aqueles que saíram de cena...

Esse tipo de consideração, de análise baseada em números frios, gélidos, indiferentes, não faz jus ao real valor que um ser humano tem para aqueles que o conhecem e o amam. Se para a maioria somos invisíveis e transparentes, se para quase todos somos como se não fôssemos, para alguns poucos com os quais dividimos experiências e compartilhamentos emoções e sentimos, temos sim muito valor.

Meu tio se foi e deixou um espaço vazio - e ao mesmo tempo, impregnado de dor, tristeza e luto - na vida da esposa, de filhos, sobrinhos, netos, parentes e amigos. Sua morte abre em nós, que o conhecíamos, uma ferida que só o tempo será capaz de curar. Ela nos lembra que não "somos", apenas "estamos" aqui por um breve tempo e seguimos em direção ao fim indesejado e inevitável.

A vida tem suas estações, que não são comparáveis às estações do tempo. Com o tempo é assim: há dias frios e dias quentes; dias chuvoso e dias secos. Estamos acostumados com essa alternância, com esse revesamento. Mas com a vida, não é assim que ocorre. Não ficamos ora mais novos e ora mais velhos. A seta do tempo aponta sempre numa mesma direção: vivemos a caminho da morte. Meu tio se foi. Nós também iremos.

A morte nos convida a uma reflexão sobre a vida. Vivemos quase sempre como se ela (a vida) fosse inesgotável. E a esbanjamos. E a colocamos em segundo plano. E estabelecemos prioridades que comprometem nossa saúde e felicidade. E deixamos tantas coisas importantes pra depois... E a vida vai passando sem que nos demos conta disso. Um dia a vida acaba...

A vida não é eterna. Pelo contrário, é curta, breve e frágil. Ela resiste e insiste e teima em se conservar enquanto se equilibra com dificuldade na crista de uma onda de entropia. Cedo ou tarde a onda se rompe e a vida se vai. Daí a importância de se aproveitar cada dia, cada encontro, cada momento, porque a vida é isso: uma coleção de momentos, cada um com sua cor e seu sabor. E esses momentos passam e nunca mais voltam.

Registro aqui meus sentimentos pela morte de meu tio Antônio. Meu pai lamenta a perda de mais um irmão. Ele, que já vive o ocaso da existência, sofre com mais uma despedida, com mais uma perda, enquanto prossegue vivendo.
quinta-feira, fevereiro 24, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges

A correria da vida tem me privado de tempo para pensar. Sou um ser pensante, ou pelo menos deveria ser. Tenho sido um "pensante não praticante". Ultimamente tenho abusando do piloto automático. De casa para o trabalho, do trabalho pra casa. E entre uma coisa e outra, longas e enfadonhas horas no trânsito neurótico de São Paulo.

Tenho tomado, à cada manhã, a pílula da condescendência com essa realidade mórbida e, sob seu efeito, passo a encarar os fatos como "normais". Sigo, ao longo do dia, sonolento, entorpecido, distante... até que um fato novo se encarregue de me despertar. E foi isso que aconteceu. Nos últimos dias fui tocado por dramas vividos por colegas de trabalho e familiares diante do inexorável, do inevitável: A morte.

O tempo passa para todos e leva consigo a beleza da forma, o vigor da juventude e, por fim, a própria vida. A morte mora ao lado. Segue-nos como sombra. Está sempre em nosso encalço e se aproxima perigosamente à medida que o tempo de vida avança. Por fim ela sempre nos alcança, abraça, envolve, aniquila.

Começamos a morrer assim que nascemos. Contradição insuperável: a vida traz em seu cerne a semente da morte! Essa semente brota, cresce e se faz árvore, cujas sombras densas nos cobre.

Dizem que a única certeza absoluta que se pode ter é que a vida terá um fim, cedo ou tarde. Há os que acreditam que é dessa certeza indigesta que brotam os delírios da imortalidade e as crenças na ressurreição do corpo, na imortalidade da alma, na vida após a morte, ou algo do gênero. Faz sentido?

E eu que seguia embalado pela rotina - meio vivo, meio morto - fui chacoalhado por sinais vindos de vários lados alertando-me para o fato de que é preciso viver de forma plena.

Pois é... Hoje, antes de ir dormir, resolvi resgatar minha capacidade (quase perdida) de pensar. E pensei. E me dei conta de que o tempo está passando e a vida se desbotando. É preciso viver!
quinta-feira, janeiro 20, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
O dia está prestes a findar. O sol caminha lentamente em direção ao poente, enquanto nuvens escuras se concentram nas encostas da Serra do Mar. É verão e o que se vê não parece inusitado nem ameaçador. A vida segue seu caminho. Uns trabalham, outros descansam, turistas aproveitam suas férias na montanha.

O tempo passa. O céu se torna mais negro. O sol adormece e o dia se faz noite, precocemente. Começa mais um espetáculo da natureza.

O vento rosna. Raios inflamados lampejam no céu. Trovões raivosos fazem sua voz soturna e grave ecoar pelo vale. A serra imponente contempla em reverência a demonstração de força que brota do âmago de nuvens escuras e densas. As comportas do céu se abrem despejando chuva em profusão. É o começo do fim. Dilúvio. Destruição.

A chuva não pára, pelo contrário, intensifica-se. O que antes parecia mais uma chuva de verão adquire contornos dramáticos de juízo final. A natureza se mostra hostil, indomável e furiosa, expondo sua face sombria, assustadora e mortal, despertando o medo adormecido nos corações de adultos e crianças.

Com efeito, em tais situações, é difícil distinguir adultos de crianças. Estatura e a idade deixam de ser referenciais confiáveis. Todos se nivelam e se igualam em impotência e fragilidade, cientes da pequenez e insignificância da existência humana. Ambos temem pela vida que vacila, pela morte que se aproxima, pelo fim que parece iminente e, talvez, inevitável.

O alarido da natureza em fúria abafa a voz rouca de pais aflitos e filhos desesperados que clamam em vão pelo auxílio que não vem. Evocam-se santos, enunciam-se promessas, apega-se pela fé a uma "mão invisível" que, naquele instante de desespero, parece ser o que de mais sólido há em que se possa agarrar.

Dinheiro, poder, prestígio - tudo perde o valor. São impotentes, insignificantes, incapazes de tocar o coração da natureza, que não os reconhece nem respeita. Para ela (a natureza), homens, animais, árvores e pedras se equivalem e recebem o mesmo tratamento.

O tempo passa. A tempestade recrudesce. A esperança fraqueja. A racionalidade cede lugar ao instinto de sobrevivência. É "cada um por si e Deus por todos". Salve-se quem puder!

Enquanto isso, pequenos regatos de águas cristalinas, atrações turísticas da região, transformam-se em torrentes caudalosas que descem das encostas com violência e furor, alagando o vale abaixo onde, outrora, prosperavam belas cidades serranas. Árvores são arrancadas do solo. Pedras enormes se desprendem e iniciam sua trajetória mortal de horror e destruição. A Serra se derrete e escorre como se fosse areia. Rios de lama formam cachoeiras. A geografia da região é reconfigurada. Casebres e mansões são aterrados, lares desfeitos, corpos humanos esmagados. Nada parece resistir à força e à fúria da natureza.

O que está acontecendo? Será a mão do destino, do divino ou do diabólico? Para muitos, não há tempo para respostas, não há sequer tempo para a vida. A morte os venceu.

E os que sobrevivem a esse drama tentam juntar os trapos e seguir em frente.

E os que, de longe, contemplamos a tudo sem por o pé na lama, encontramos tempo para fazer perguntas e procurar respostas. E muitos afirmam que tem, sim, as tais respostas... Eu não chego a tanto...

Para mim, não há respostas, mas há escolhas. Posso escolher acreditar que foi tudo obra do acaso, ou que foi a mão de Deus, ou ação das forças do mal. E essas escolhas, embora não mudem os fatos, afetarão o modo como eu os encaro e, certamente, influenciarão minha vida.

Seja como for, o verão prossegue. Chuvas voltarão a cair. Novas tragédias ocuparão os telejornais. Muito será dito e, provavelmente, pouco será feito... Coisas da vida! Coisas do Brasil!
sábado, junho 19, 2010 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Ontem ele se foi. Partiu sem dizer adeus. Deixou-nos para não mais voltar. José Saramago, escritor português, Nobel de literatura em 1998, não mais está entre nós. Morreu!

Sua morte, contudo, não representa necessariamente o seu fim. É certo que Saramago sobreviverá em suas obras e na memória dos muitos admiradores que conquistou em seus 87 anos de vida. Contudo, é inegável que sua subjetividade (sua capacidade de sentir, pensar, recordar, decidir, desejar), aquilo que o caracterizava e o distinguia de todos os demais, chegou ao fim, acabou, pereceu... Saramago faleceu.

Lamento...

Há quem creia em vida após a morte. Saramago não se situava entre esses. Para ele, só se vive uma vez. E foi com essa convicção que ele viveu e escreveu sua história. Ontem, o último parágrafo foi redigido e encerrado com o ponto final definitivo.
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