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domingo, outubro 16, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
De repente, como num passe de mágica, o tempo se acelera e, num piscar de olhos, uma hora vira fumaça. É assim que, no dia mais curto do ano, começa o horário de verão. Há quem goste dele; há quem o odeie. A motivação para sua existência é econômica, vem de cima, uma imposição, de modo que não há alternativa a não ser a adaptação.

Particularmente, gosto do horário de verão, da ilusão despertada em mim de que nele os dias se alongam e conseguirei chegar mais cedo em casa. E me pego pensando que agora terei tempo para dar uma corridinha à tarde, ou fazer sei lá o quê que nunca é feito porque os dias normais, aparentemente mais curtos, me negavam a oportunidade de realizá-las.

Hoje, por exemplo, o dia rendeu. Às 6:00h já estava correndo. As ruas do bairro, ainda vazias, pareciam indicar que muitos se esqueceram de adiantar o relógio. Se bem que, aos domingos, muitos paulistanos aproveitam para acertar a conta com Morfeu e, convenhamos, o tempo feio, frio, chuvoso, era um convite quase irrecusável para seguir o exemplo do Sol e relegar o primeiro dia do horário de verão ao esquecimento.

Embora aprecie o horário de verão, há algo que me incomoda nessa história toda: é a lembrança de que o horário de verão começa em meados de outubro e isso significa que o ano está a um passo do fim... Mas o ano não começou outro dia? Como é que já estamos em outubro? Como pode ter passado tão depressa? Não sei... Já procurei em vão por meios eficientes capazes de por freio nessa rapidez insana com que o tempo insiste em fluir. Pra que tanta pressa? Pra onde vai tão veloz? Está atrasado? Sei lá... Até parece que o tempo é paulistano... Disso não gosto! Eu, se pudesse, reduziria a velocidade do tempo pela metade e, aí sim, esses dias de horário de verão seriam grandes o bastante para que neles pudesse resgatar aqueles muitos "quês" que aguardam na longa fila da "falta de tempo" pelo momento utópico em que possam vir a acontecer.

Mas não dá pra frear o tempo! E o domingo já passou, num piscar de olhos! Eu até já me preparei para o dia seguinte (vulgo "segundona brava"), que colocará, de fato, o horário de verão na vida de todos que o amam ou odeiam.

Feliz horário de verão para todos!
sábado, setembro 10, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Com a palavra, Charles Chaplin:

A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. 

Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.

Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?
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sábado, julho 23, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Ontem à noite recebi uma ligação telefônica informando-me sobre o falecimento de um tio paterno. "Ele se foi...".

E quem era ele?

Em um país cuja população beira duzentos milhões de pessoas e num planeta que abriga quase sete bilhões de habitantes, ele era o que eu e você ainda somos: muito pouco. Todo dia uma multidão anônima nasce e outra perece. Meu tio foi contado entre aqueles que saíram de cena...

Esse tipo de consideração, de análise baseada em números frios, gélidos, indiferentes, não faz jus ao real valor que um ser humano tem para aqueles que o conhecem e o amam. Se para a maioria somos invisíveis e transparentes, se para quase todos somos como se não fôssemos, para alguns poucos com os quais dividimos experiências e compartilhamentos emoções e sentimos, temos sim muito valor.

Meu tio se foi e deixou um espaço vazio - e ao mesmo tempo, impregnado de dor, tristeza e luto - na vida da esposa, de filhos, sobrinhos, netos, parentes e amigos. Sua morte abre em nós, que o conhecíamos, uma ferida que só o tempo será capaz de curar. Ela nos lembra que não "somos", apenas "estamos" aqui por um breve tempo e seguimos em direção ao fim indesejado e inevitável.

A vida tem suas estações, que não são comparáveis às estações do tempo. Com o tempo é assim: há dias frios e dias quentes; dias chuvoso e dias secos. Estamos acostumados com essa alternância, com esse revesamento. Mas com a vida, não é assim que ocorre. Não ficamos ora mais novos e ora mais velhos. A seta do tempo aponta sempre numa mesma direção: vivemos a caminho da morte. Meu tio se foi. Nós também iremos.

A morte nos convida a uma reflexão sobre a vida. Vivemos quase sempre como se ela (a vida) fosse inesgotável. E a esbanjamos. E a colocamos em segundo plano. E estabelecemos prioridades que comprometem nossa saúde e felicidade. E deixamos tantas coisas importantes pra depois... E a vida vai passando sem que nos demos conta disso. Um dia a vida acaba...

A vida não é eterna. Pelo contrário, é curta, breve e frágil. Ela resiste e insiste e teima em se conservar enquanto se equilibra com dificuldade na crista de uma onda de entropia. Cedo ou tarde a onda se rompe e a vida se vai. Daí a importância de se aproveitar cada dia, cada encontro, cada momento, porque a vida é isso: uma coleção de momentos, cada um com sua cor e seu sabor. E esses momentos passam e nunca mais voltam.

Registro aqui meus sentimentos pela morte de meu tio Antônio. Meu pai lamenta a perda de mais um irmão. Ele, que já vive o ocaso da existência, sofre com mais uma despedida, com mais uma perda, enquanto prossegue vivendo.
sábado, abril 16, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Domingo passado (10/04/2011) foi um dia especial: participei mais uma vez da Meia Maratona Corpore. Realizei, assim, uma das metas estabelecidas para este ano.

Noutros tempos, minha meta seria correr pelo menos uma maratona. Mas os tempos mudaram. Tenho treinado pouco e os 42,2 km da maratona hoje me assustam.

Após uma noite de muita chuva, o domingo amanheceu ameno e propício à prática de esporte. Cheguei à arena de largada sete minutos antes do início e me surpreendi com a ausência de muvuca. A prefeitura da USP havia limitado o número de participantes em 6.000 inscrições, das quais 2.000 foram destinadas a uma prova de cinco quilômetros.

A largada foi tranqüila e em menos de três minutos passei pelo tapete de largada. Senti um friozinho na barriga ao pensar que teria pela frente 21,1 km, distância que não percorria há uns dois ou três anos. Por precaução, decidi segurar o ritmo. Minha metas eram bem realistas e modestas: (1) correr até o fim, sem parar; (2) se possível, terminar em até duas horas e (3) qualquer tempo abaixo de duas horas seria lucro.

Preocupava-me o que poderia me ocorrer após os "12 km", maior distância que percorri nos últimos meses. Precisava me poupar para não sofrer demais nos quilômetros finais.

Para minha surpresa, à medida que o tempo fluía e meu corpo se aquecia, ia me sentindo mais à vontade na prova. Correr era um imenso prazer. Ia superando os quilômetros sem dificuldade, respeitando os limites do corpo, até alcançar a marca de 15 Km. Nesse ponto, o tênis novo que eu usada passou a incomodar bastante. Meus pés ardiam, como se estivessem cheios de bolhas. O que fazer? Pensei em parar...

Mas faltavam apenas seis quilômetros. Por que não tentar um pouco mais? Negociei comigo mesmo e decidi prosseguir, mesmo que as bolhas estourassem. A temperatura continuava amena, num belo domingo de outono, e o prazer de correr ainda me acompanhava, a despeido do desconforto causado pelo tênis. Passe a fazer contagem regressiva e, sem me dar conta, aumentei o ritmo, até cruzar a linha de chegada em um tempo que me surpreendeu: 1:45:29h e ritmo médio de 4:59 minutos por quilômetro (ou 12 Km por hora)

Terminei com o pé esfolado. Foi difícil caminhar até o carro, mas a satisfação de concluir uma meia maratona, depois de anos, superou em muito o desconforto nos pés.

Resumo:
terça-feira, março 08, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
O educador Geoffrey Canada, em artigo publicado na revista Veja desta semana, assim se expressa ao relembrar um momento de sua infância:

"Sempre achei que a salvação era o Superman. Um dia, minha mãe me disse que o Superman não existia. Eu tinha 8 anos. Minha mãe disse: 'Não, não, não tem Superman nenhum'. Comecei a chorar, porque achava realmente que o Superman viria nos salvar do caos, da violência, do perigo. Mas não havia herói nenhum. Descobrir que ninguém viria nos socorrer foi uma das experiências mais chocantes da minha infância" (Veja, edição 2207, 09/03/2011, página 68).

Embora nunca tenha crido na existência real do Superman, admito já ter acreditado em outros heróis. Super-heróis. Com o tempo, acabei sendo forçado a rever meu ponto de vista. Heróis são seres fascinantes por seu poder, bondade, nobreza, altruísmo e disposição para o sacrifício. Vivem para os outros e se fazem presentes quando deles mais necessitamos. Superman reúne esses atributos. Ele é tão perfeito que parece não ser de verdade e, de fato, não é. Não pode ser!
domingo, março 06, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Fevereiro é um mês curto, pobre em dias. Os romanos o viam com reserva: era de mau agouro. Com o advento do calendário Juliano, a sorte do mês de fevereiro não mudou. Mudança mesmo ocorreu décadas mais tarde quando lhe afanarm um dia para que o mês de sextilis, ao ser rebatizado como agosto em homenagem a Cesar Augusto, passasse a ter trinta e um dias. Desde então, fevereiro mantém seus vinte e oito dias, exceto nos anos bisextos, quando lhe é acrescido um dia.

Em 2011, fevereiro passou voando. Mesmo assim, consegui superar o volume de treino do mesmo mês do ano anterior. É fato que no ano passado corri muito abaixo de minha média histórica, mas vou deixar essa média histórica de lado, por enquanto, e comemorar a conquista recente.

Também continuo treinando de maneira irregular. Estou perdendo, em média, algo próximo a cinco horas por dia no trânsito de São Paulo. É tempo demais para quem, a semelhança do mês de fevereiro, é pobre em dias.

Algo não mudour: continuo sem motivação para participar de eventos (corridas de rua) e, sem uma prova alvo, não vejo por que levantar de madrugada para treinar ou ir para a rua após o dia de trabalho e cinco horas no trânsito. Conseqüentemente, meus treinos continuam se concentrando nos finais de semana e feriados.

Penso que em março, graças à semana de carnaval, conseguirei superar o volume de março do ano passado. O placar tende a ser de 3 x 0 para 2011.
sábado, fevereiro 26, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Já ouvi diversas vezes que "os homens são eternos meninos, o que muda é o valor dos brinquedos".

Faz sentido?

Começa a me parecer que sim, que a vida não deva levada a sério. Não em demasia. É preciso, sim, agir com responsabilidade. Organização e planejamento são necessários, mas tudo dentro de certos limites. Seriedade demais talvez atrapalhe.

Viver é complicado. Viver em sociedade é um desafio cheio de deveres, compromissos, responsabilidades, obrigações, contas a pagar e sapos a engolir. Sobreviver nessa teia social requer austeridade, maturidade, juízo, isto é, agir e comportar-se como adulto, num mundo dominado por adultos.

Adultos tendem a ser mais sérios que crianças. Estas, geralmente vivem o momento presente e o fazem de modo intenso, apaixonado. Adultos, nem tanto. Adultos vivem divididos entre o agora e o depois, entre o agora e o antes. Adultos são sérios. Bebem a vida com moderação, como recomendam os comerciais de cerveja.

Eu sou do tipo que tem a propensão de levar a vida a sério demais. Curiosamente, não gosto da palavra "sério", talvez porque ele me lembre o prefixo latim "seri-" que está associado a "fila", "encadeamento" e me lembre "produção em série". Produção em série é interessante para fábricas que, dessa forma, ganham em escala e reduzem custos. Pra gente de carne e osso, não encaixa bem. Somos peças únicas, sui generis. Não fomos fabricados; fomos concebidos. Mas, estranhamente, nossos modelos, nosso sistema educacional, a indústria do consumo e nossa necessidade quase insada de reconhecimento e aceitação nos levam a abdicar de nossa singuralidade e a nos perder no plural social (deixo de ser o que "sou" para ser o que "são"). Nossa vida passa a ser um "encadeamento" de atividades, uma "fila" de compromissos. Tempos modernos, como no filme de Chaplin. Comportamento civilizado, robótico, sério ou em série, sei lá... dias pré-fabricados, que reproduzem com precisão de relógio suíço a mesma rotina cinza cínica. Dias que são cara de um, focinho do outro.

Penso muito antes de quebrar a rotina. Sou sério! Penso muito antes de tomar uma decisão. Às vezes minha esposa me dá umas alfinetadas, senão não saio do transe. "De pensar, morreu o burro", como diz a sabedoria popular. O burro é um bicho sério. Eu sou sério. Logo...

Silogismo à parte, toda essa ladainha é apenas para dizer que, há uns dois meses, deixei a seriedade de lado e me dei um presente (não antes de vários meses de pesquisa, muito pensar, refletir, calcular, comparar, analisar e até me angustiar, afinal, sou tão sério quanto um burro). Por fim, graças à intervenção de minha esposa, resolvi me presentear com um smartphone (Milestone 2 da Motorala) e voltei a ser menino, a despeito dos muitos cabelos brancos que coroam minha cabeça e denunciam minha idade.

Levei quase um mês para receber a primeira ligação no aparelho. Explico: na média, recebo duas ligações por mês: uma é de minha esposa, a outro é engano. No último mês fiquei abaixo da média.

À rigor, não preciso de celular, mas ando com um o tempo todo, como todo mundo. Coisas da vida em sociedade. Teimosia em ser igual aos demais, para não ser rotulado de diferente ou esquisito. É certo que muitos precisam de celular, alguns até tem mais de um... Pra mim, celular é enfeite e, agora, um brinquedo. Brinquedo caro! Um verdadeiro computador de mão no qual já instalei um bom número de aplicativos, utilitários e, é claro, vários joguinhos divertidos.

Depois que adquiri esse smartphone, com seu fantástico sistema operacional Android do Google, passei a ser um testemunho vivo da sabedoria popular: "os homens são eternos meninos, o que muda é o valor dos brinquedos". Com o Milestone consegui por de lado a seriedade e me envolver com o lúdico. Redescobri o prazer de brincar. Belo aparelho! E embora eu quase não o use para fazer ligações, posso afirmar que ele funciona muito bem como telefone. Pelo menos é o que diz o manual fabricante (rs).
quinta-feira, fevereiro 24, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges

A correria da vida tem me privado de tempo para pensar. Sou um ser pensante, ou pelo menos deveria ser. Tenho sido um "pensante não praticante". Ultimamente tenho abusando do piloto automático. De casa para o trabalho, do trabalho pra casa. E entre uma coisa e outra, longas e enfadonhas horas no trânsito neurótico de São Paulo.

Tenho tomado, à cada manhã, a pílula da condescendência com essa realidade mórbida e, sob seu efeito, passo a encarar os fatos como "normais". Sigo, ao longo do dia, sonolento, entorpecido, distante... até que um fato novo se encarregue de me despertar. E foi isso que aconteceu. Nos últimos dias fui tocado por dramas vividos por colegas de trabalho e familiares diante do inexorável, do inevitável: A morte.

O tempo passa para todos e leva consigo a beleza da forma, o vigor da juventude e, por fim, a própria vida. A morte mora ao lado. Segue-nos como sombra. Está sempre em nosso encalço e se aproxima perigosamente à medida que o tempo de vida avança. Por fim ela sempre nos alcança, abraça, envolve, aniquila.

Começamos a morrer assim que nascemos. Contradição insuperável: a vida traz em seu cerne a semente da morte! Essa semente brota, cresce e se faz árvore, cujas sombras densas nos cobre.

Dizem que a única certeza absoluta que se pode ter é que a vida terá um fim, cedo ou tarde. Há os que acreditam que é dessa certeza indigesta que brotam os delírios da imortalidade e as crenças na ressurreição do corpo, na imortalidade da alma, na vida após a morte, ou algo do gênero. Faz sentido?

E eu que seguia embalado pela rotina - meio vivo, meio morto - fui chacoalhado por sinais vindos de vários lados alertando-me para o fato de que é preciso viver de forma plena.

Pois é... Hoje, antes de ir dormir, resolvi resgatar minha capacidade (quase perdida) de pensar. E pensei. E me dei conta de que o tempo está passando e a vida se desbotando. É preciso viver!
sábado, janeiro 22, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
A frase acima, usada como título para esse texto, é de autoria do cantor e compositor John Lennon e é citada por a Richard Dawkins no documentário "A raiz de todo mal" e no livro "Deus um delírio", nos quais ele argumenta com fervor e eloqüência em defesa de um mundo sem ataques suicidas, sem o 11 de setembro, sem o Talibã, sem as infindáveis guerras entre judeus e palestinos, sem muçulmanos, sem cristãos, enfim, um mundo sem religião. Você é capaz de imaginar como seria esse mundo? Eu bem que tentei imaginá-lo, mas me esbarrei em algumas limitações.

Até onde consegui pesquisar, não se tem conhecimento de nenhuma cultura que seja estruturalmente não religiosa ou atéia. Com efeito, ao longo dos séculos, o ateísmo foi sempre um fenômeno escasso, minoritário, periférico. Imaginar um mundo sem religião estando inserido em um mundo essencialmente religioso requer muita abstração e criatividade, a menos que tomemos um atalho e peguemos o nosso mundo, tal qual é, e simplesmente removamos a religião dele. Essa atitude, contudo, não me parece ser a forma mais honesta de lidar com a questão, mas foi o que eu fiz (e penso que seja o que muitos façam) ao aceitar o desafio de John Lennon em sua música "Imagine".

Para muitos, o mundo seria melhor se não houvesse religião. Alguns, pela forma como se colocam, parecem ter certeza disso. Sinceramente, não sei como chegaram a essa conclusão, mas não quero aqui polemizar sobre o que me parece ser resultado de escolhas pessoais. Quanto a mim (e aqui exponho tão somente meu ponto de vista numa reflexão sabática despretensiosa), estou inclinado a crer que a religião não seja a raiz de todo o mal, porque, para mim, religião não é "causa" e sim "efeito". Conseqüentemente, sua remoção não seria suficiente para o estabelecimento de um mundo novo e melhor, já que a verdadeira causa permaneceria.

É fato inegável que sempre houve atritos, conflitos e guerras baseados em princípios religiosos. Reconheço que, em nome de Deus muitas atrocidades foram cometidas. Lembro-me agora, para citar um exemplo, das Cruzadas que, sob o pretexto de reconquistar a cidade de Jerusalém – local sagrado para os cristãos – legitimou crueldades, saques, destruições e mortes, deixando um rastro de sangue ao longo de quase dois séculos de história (1096-1272). E tudo isso conduzido sob as bênçãos da igreja e, supostamente, com a aprovação do "Senhor dos exércitos, o Deus de Israel". Confesso-lhes que, ao refletir sobre esse capítulo sombrio de nossa história, sinto-me propenso a pensar que o mundo sem religião seria melhor que este em que vivemos.

Por outro lado, admito a existência de um outro lado da experiência religiosa que me faz hesitar em colocá-la no cadafalso. São casos como o do quase desconhecido frade franciscano Maximiliano Kolbe, que se voluntariou para morrer em lugar de um pai de família no campo de concentração nazista de Auschwitz. Durante a segunda guerra mundial ele abrigou muitos refugiados, incluindo aí dois mil judeus. Relatos como esse me comovem!

A religião, no entender de especialistas, é um fenômeno "polissêmico". O que isso significa? Essa palavra, pouco usada em nosso dia-a-dia, deriva do grego "poli" (muitos) e "sema" (significado) e é empregada pelos estudiosos da religião para dizer que ela é um signo aberto, que pode assumir significados diversos de acordo com o contexto e ser usada para praticamente tudo. Em nome da religião estimulou-se a inquisição e a caça às bruxas; em nome da religião promoveu-se a arte e a poesia. Em nome da religião se mata; em nome da religião se salva. Em nome da religião, tudo pode ser justificado. É isso que os especialistas querem dizer quando se referem a ela como "polissêmica".

Quando analisamos os textos sagrados nos quais as religiões se alimentam, fica mais fácil entender esse comportamento metamórfico que as caracteriza. Tomemos o cristianismo como exemplo, apenas por ser essa a religião com a qual temos maior afinidade. Em certa ocasião, Jesus disse que não veio ao mundo para trazer paz e sim espada (leiam em S. Mateus 10:34-36). Em outro momento ele afirma o contrário. Diz ele: "bem-aventurado os pacificadores" (leiam em S. Mateus 5:9). Afirmações como essas, aparentemente conflitantes e incoerentes, abrem margem para interpretações dúbias, divergentes, contraditórias, antagônicas. Qualquer um pode se sentir no direito de invocá-las ou interpretá-las em benefício próprio ou conforme a conveniência do momento, justificando assim tanto a guerra (por motivos "nobres", sempre) quanto a paz. Atualmente, presenciamos uma explosão de novas denominações religiosas cristãs, cada uma com suas singularidades e incongruências e todas ancoradas no mesmo texto sagrado. A natureza polissêmica desse texto sagrado favorece (e até justifica) esse fenômeno bizarro.

Com base no que foi colocado até aqui, parece-me razoável presumir que a religião, por ser polissêmica, isto é, aberta e sujeita a interpretações circunstanciais e influências pessoais, pode ser usada (e de fato tem sido usada) para apoiar movimentos que promovem tanto a paz quanto a guerra, tanto a concórdia quanto o conflito, tanto a vida quanto a morte. Ora, isso me leva a concluir que a religião em si não passa de um instrumento, que pode ser usado (e de fato o é) de acordo com a habilidade de quem o domina. E em sendo um instrumento, então não pode ser "a causa" do bem ou do mal, porque não há intenção em um instrumento.

Se me permitem a comparação, o mesmo pode ser dito a respeito da ciência. Ela também é um instrumento, uma ferramenta e, como tal, seu propósito é o propósito de quem a utiliza. Há quem faça bom uso da ciência, mas há também quem não o faça. Após a segunda gerra mundial, muitos se perguntavam se ainda era possível acreditar em Deus depois de Auschwitz. Por outro lado, outros também se questionam se ainda era possível acreditar na ciência depois de Hiroshima.

Não sei se estou conseguindo ser claro, mas o que estou tentando dizer é que, assim como a ciência, a religião não deve ser tomada como a "causa" de certos males que afetam nosso mundo e concluir que, sem ela, estaríamos mais próximos do paraíso terrestre. Isso porque, no meu entender, a verdadeira causa de tais males precede a própria manifestação religiosa.

Evidentemente, o que expus aqui é apenas o "meu" ponto de vista atual. Sei que muitos discordariam dele se porventura viessem a ler o que acabo de escrever. Por isso e de antemão, registro aqui meu sincero respeito e apreciação por essas opiniões contrárias. Contudo, reafirmo o que disse e que resumo da seguinte forma:

(1) O sentimento religioso é inerente ao ser humano. Conforme disse antes, não se tem conhecimento de qualquer cultura que seja estruturalmente não religiosa ou atéia. Em sendo assim, não consigo imaginar como seria um mundo sem religião, a menos que imagine um mundo sem seres humanos. Se a religião não existisse, nós a inventaríamos, talvez com outro nome, mas com essência semelhante.

(2) Entendo que os problemas que existem na sociedade são decorrentes da natureza humana. Somos seres belicosos, sedentos de poder e essencialmente egoístas. A própria sociedade (que também é uma invenção humana) se apóia nesse nosso egoísmo (aprendemos com o tempo a impor limites a esse egoísmo em troca de um bem maior). Em sendo isso verdade, então, com religião ou sem religião, continuaríamos a ser o que somos: egoístas, violentos e ávidos por poder.

E depois de tanto falar a pergunta persiste. Hipoteticamente falando, o mundo sem religião seria melhor ou pior do que este em que vivemos?

Não me parece que seja possível responder a essa pergunta de maneira honesta. Faltam-nos elementos para análise. Podemos fazer suposições. Podemos eleger uma das opções como preferida e elencar características positivas e/ou negativas para apoiar nossa escolha, mas o fato é que só conhecemos um mundo – o mundo com religião – e o outro não passa de uma hipótese ou utopia.

Julgo importante lembrar que, na maioria dos casos, as utopias são elaboradas não com o fim de se criar um novo mundo ou uma nova sociedade e sim reformar o mundo e a sociedade em que vivemos. Em sendo assim, vale à penas considerar a proposta de John Lennon e tentar imaginar como seria esse mundo sem cristãos, muçulmanos, budistas e outros rótulos religiosos que causam tantas divisões. Talvez esse exercício nos ajude a melhorar o mundo que conhecemos, a começar por nós mesmos.

E para concluir o tema, evoco as palavras do historiador e filósofo Dr. Leandro Karnal, professor na Unicamp, em um Café Filosófico que não canso de assistir: "Volto a insistir: ateísmo ou religião não tornam o mundo pior ou melhor, apenas tornam o mundo do jeito que ele é".
quinta-feira, janeiro 20, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
O dia está prestes a findar. O sol caminha lentamente em direção ao poente, enquanto nuvens escuras se concentram nas encostas da Serra do Mar. É verão e o que se vê não parece inusitado nem ameaçador. A vida segue seu caminho. Uns trabalham, outros descansam, turistas aproveitam suas férias na montanha.

O tempo passa. O céu se torna mais negro. O sol adormece e o dia se faz noite, precocemente. Começa mais um espetáculo da natureza.

O vento rosna. Raios inflamados lampejam no céu. Trovões raivosos fazem sua voz soturna e grave ecoar pelo vale. A serra imponente contempla em reverência a demonstração de força que brota do âmago de nuvens escuras e densas. As comportas do céu se abrem despejando chuva em profusão. É o começo do fim. Dilúvio. Destruição.

A chuva não pára, pelo contrário, intensifica-se. O que antes parecia mais uma chuva de verão adquire contornos dramáticos de juízo final. A natureza se mostra hostil, indomável e furiosa, expondo sua face sombria, assustadora e mortal, despertando o medo adormecido nos corações de adultos e crianças.

Com efeito, em tais situações, é difícil distinguir adultos de crianças. Estatura e a idade deixam de ser referenciais confiáveis. Todos se nivelam e se igualam em impotência e fragilidade, cientes da pequenez e insignificância da existência humana. Ambos temem pela vida que vacila, pela morte que se aproxima, pelo fim que parece iminente e, talvez, inevitável.

O alarido da natureza em fúria abafa a voz rouca de pais aflitos e filhos desesperados que clamam em vão pelo auxílio que não vem. Evocam-se santos, enunciam-se promessas, apega-se pela fé a uma "mão invisível" que, naquele instante de desespero, parece ser o que de mais sólido há em que se possa agarrar.

Dinheiro, poder, prestígio - tudo perde o valor. São impotentes, insignificantes, incapazes de tocar o coração da natureza, que não os reconhece nem respeita. Para ela (a natureza), homens, animais, árvores e pedras se equivalem e recebem o mesmo tratamento.

O tempo passa. A tempestade recrudesce. A esperança fraqueja. A racionalidade cede lugar ao instinto de sobrevivência. É "cada um por si e Deus por todos". Salve-se quem puder!

Enquanto isso, pequenos regatos de águas cristalinas, atrações turísticas da região, transformam-se em torrentes caudalosas que descem das encostas com violência e furor, alagando o vale abaixo onde, outrora, prosperavam belas cidades serranas. Árvores são arrancadas do solo. Pedras enormes se desprendem e iniciam sua trajetória mortal de horror e destruição. A Serra se derrete e escorre como se fosse areia. Rios de lama formam cachoeiras. A geografia da região é reconfigurada. Casebres e mansões são aterrados, lares desfeitos, corpos humanos esmagados. Nada parece resistir à força e à fúria da natureza.

O que está acontecendo? Será a mão do destino, do divino ou do diabólico? Para muitos, não há tempo para respostas, não há sequer tempo para a vida. A morte os venceu.

E os que sobrevivem a esse drama tentam juntar os trapos e seguir em frente.

E os que, de longe, contemplamos a tudo sem por o pé na lama, encontramos tempo para fazer perguntas e procurar respostas. E muitos afirmam que tem, sim, as tais respostas... Eu não chego a tanto...

Para mim, não há respostas, mas há escolhas. Posso escolher acreditar que foi tudo obra do acaso, ou que foi a mão de Deus, ou ação das forças do mal. E essas escolhas, embora não mudem os fatos, afetarão o modo como eu os encaro e, certamente, influenciarão minha vida.

Seja como for, o verão prossegue. Chuvas voltarão a cair. Novas tragédias ocuparão os telejornais. Muito será dito e, provavelmente, pouco será feito... Coisas da vida! Coisas do Brasil!
segunda-feira, janeiro 17, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
A palavra "natureza" deriva do latim "natura" que significa nascimento. De certo modo, somos todos filhos da natureza, o que nos induz a vê-la como uma espécie de mãe, a "mãe-natureza". Será isso verdade?

Carlos Drumond Andrade, no poema "Para Sempre", assim se expressa a respeito da figura materna:

Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento

e chuva desaba,

veludo escondido

na pele enrugada,
água pura,
ar puro,

puro pensamento.


Mãe, diz ele, "é tempo sem hora" – alguém sempre presente, especialmente nos momentos difíceis, "quando sopra o vento e a chuva desaba".

Quanto à natureza, o mesmo poeta não a descreve como uma mãe (não que eu saiba). Ele apenas declara em tom taciturno: "A natureza não faz milagres; faz revelações".

Os recentes fenômenos naturais que provocaram a morte de mais de seiscentas pessoas no Rio de Janeiro, revelam-nos uma face sinistra da natureza que nada tem a ver com a mãe afetuosa descrita por Drummond. O vento soprou, a chuva desabou e a serra, outrora firme como uma rocha, desfez-se em lama que soterrou vales, destruiu casas e ceifou vidas. O Rio de janeiro se transformou em rio de lágrimas. Filhos da natureza se viram órgãos de uma mãe que não se poupou da própria viuvez.

Costumamos contemplar a natureza com olhos poéticos. Dessa forma ela nos parece bela, provedora, acolhedora, amiga e maternal. Mas poesia não é sinônimo de realidade. Os fatos recentes mostraram, mais uma vez, que a natureza é uma força cega, desprovida de consciência e insensível as nossas dores. Não nos reconhece como seus filhos nem sente a nossa falta.

Ela pode ser tudo, menos uma mãe, embora muitos insistam em reverenciá-la como tal.

quinta-feira, janeiro 13, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Há momentos em que as palavras, por mais eloqüentes que sejam, se mostram incapazes de expressar o sentimento de dor, desespero e desamparo que nos abate diante de catástrofes como essa que atingiu a região serrana do estado do Rio de Janeiro.

São centenas de mortos e um número desconhecido de feridos e desabrigados. A serra, atração turística da região, com sua aparência firme e sólida, tornou-se frágil e instável sob a força da chuva, convertendo-se em um rio de lama e pedra que, em pouco tempo, transformou a paisagem até então paradisíaca em um cenário de destruição e tragédia.

Para os moradores da serra fluminense, o ano começa em meio ao caos, marcado por uma calamidade de proporções assustadora, que transformou homens seguros e fortes em crianças indefesas e frágeis. Para outros tantos moradores da mesma serra, o ano já terminou...

Muitos se questionam sobre as causas desse acidente que ceifou a vida de tantos - de homens e mulheres, crianças e idosos, ricos e pobres, marginais e cidadão de bem. As perguntas se multiplicam. As respostas se mostram escassas, sem sentido ou inexistentes. Quando o céu se mostra cinzento e hostil e a terra, sob nossos pés, vacila e cede, a vida parece perder o sentido e somos assombrados pela espantosa grandeza de nossa pequenez e fragilidade.

Lamento por tantos que morreram: projetos inacabados, sonhos interrompidos...

Lamentos por tantos que sobreviveram: que seguirão adiante com suas vidas amputadas pela perda de entes queridos...

Lamento por ser a vida assim: incerta, efêmera e frágil...

Lamento...
sábado, setembro 11, 2010 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito.
Relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido.
Na verdade, bem poucas vezes levaria a sério.
Seria até menos higiênico.

Correria mais riscos.

Viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios. Iria a lugares onde nunca fui. Tomaria mais sorvete e menos sopa. Teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto de sua vida.
Claro que tive momentos de alegria mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos. Porque, se não o sabem, disso é feito a vida, só de momentos.

Não percam o agora.

Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um Termômetro, uma bolsa de àgua quente, um guarda- chuva e um pára-quedas.

Se eu pudesse voltar a viver, viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres
E brincaria com mais crianças, se eu tivesse outra vez uma vida pela frente...

Mas já tenho 80 anos...

Observação: "Instantes" de Jorge Luiz Borges
domingo, setembro 05, 2010 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Fiquei distante desse espaço por quase dois meses. Julho se foi, agosto passou e setembro está aí, seguindo seu caminho. Pouca coisa mudou durante esse meu breve exílio, exceto o tempo que fluiu, passou e, se não me engano, deu uma bela acelerada. O tempo é assim, apressado, faminto, glutão. Nunca se cansa de engolir dias, semanas, meses, anos... Por fim, ele há de nos devorar a todos, o que não é nada animador. Às vezes, meu lado sombrio - meu instinto assassino - me leva a pensar em matar o tempo antes que ele me mate! Mas afinal, matar tempo é assassinato ou suicídio? Quem sabe? Melhor mudar de assunto e abordar questões mais simples, triviais, como por exemplo, minha paixão por corrida de rua...

Bem, continuo correndo. Pouco, é verdade. Falta-me tempo... Descobri que meu tempo não é meu, por mais contraditória que essa afirmação possa ser ou parecer. Ando afogado na correria desenfreada de Sampa. É a velha luta pela sobrevivência, para pagar a elevada conta que nos é cobrada por vivermos numa sociedade consumista, reificada pela cultura capitalista na qual estamos inseridos e da qual somos cria. Coisa de louco! Labirinto sem saída! Sempre de olho no relógio, no esforço hercúleo para não perder a hora... Esse ritmo acelerado, desenfreado e, às vezes, sem nexo, vai minando-me aos pouco: suga-me as forças, subrai-me o ânimo, furta-me o precioso tempo e, sem tempo, não há como correr... Opa! E olha eu aqui, novamente, falando em tempo, ou da falta dele... Hoje está difícil mudar de assunto!

Mas não voltei a esse blog, depois de dias ausente dele, para o transformar em palco de lamentações pela falta de tempo. Não quero, aqui, dar vulto às queixas, nutrir os ais ou ressaltar as agruras da vida. Otimismo!!! Portanto, quero destacar aqui o fato de ainda conseguir correr, a despeito da falta de tempo. Corro o que me é possível nas circunstâncias atuais. Corro por prazer e também por teimosia, no esforço quase vão de resgatar, para mim, parte do "meu tempo", que não é meu.

No mês de agosto foram apenas 61 quilômetros, mas setembro está aí, com um feriado, reacendendo em mim a esperança obstinada de que meu volume de treino volte a subir.

O gráfico abaixo comprova que, neste ano (barras azuis), estou correndo menos que no ano passado. Será que consigo reverter esse cenário?
sábado, junho 19, 2010 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Ontem ele se foi. Partiu sem dizer adeus. Deixou-nos para não mais voltar. José Saramago, escritor português, Nobel de literatura em 1998, não mais está entre nós. Morreu!

Sua morte, contudo, não representa necessariamente o seu fim. É certo que Saramago sobreviverá em suas obras e na memória dos muitos admiradores que conquistou em seus 87 anos de vida. Contudo, é inegável que sua subjetividade (sua capacidade de sentir, pensar, recordar, decidir, desejar), aquilo que o caracterizava e o distinguia de todos os demais, chegou ao fim, acabou, pereceu... Saramago faleceu.

Lamento...

Há quem creia em vida após a morte. Saramago não se situava entre esses. Para ele, só se vive uma vez. E foi com essa convicção que ele viveu e escreveu sua história. Ontem, o último parágrafo foi redigido e encerrado com o ponto final definitivo.
terça-feira, junho 08, 2010 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Com a palavra, o sábio Chuang Tzu:


Uma vez eu sonhei que era uma borboleta,
voando entre as flores e arbustos do jardim.

Tudo era tão concreto e real
que em momento nenhum do meu sonho suspeitei que a borboleta era eu
ou que eu fosse a borboleta.

Para todos os efeitos possíveis e imagináveis,
eu era, eu agia e eu realmente me sentia uma borboleta,
cumprindo o destino de uma borboleta qualquer.

De repente, eu acordei
e lá estava eu, sendo a pessoa que eu sempre fui
- ou que sempre imaginei ser.
Sei muito bem
que entre um homem e uma borboleta
há tantas diferenças fundamentais e insuperáveis
que a transformação de um no outro
é algo simplesmente impossível de acontecer no mundo real.

É por isso que, desde então,
eu nunca mais tive sossego
quanto à minha verdadeira identidade.
Pois não há nada que me permita saber,
com toda certeza e rigor,
sem nenhuma margem de dúvida,
se eu sou verdadeiramente um homem,
que um dia sonhou que era uma borboleta,
ou se eu sou uma borboleta,
sonhando que é um homem.

Link
Atenção: As imagens exibidas neste post são de autoria de Douglas Reis (Douglas Reis Studio)



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sábado, janeiro 16, 2010 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Aconteceu novamente! Eu já estava me esquecendo da tragédia em Angra dos Reis e lá vem outra me atormentar! Desta vez a natureza mostrou sua face escura numa ilha do Caribe, onde fica o Haiti, um pequeno país de pouco ou nenhum destaque no cenário mundial. Na última terça-feira (12/01/10), esse país que já era o mais pobre das Américas, tornou-se também a expressão máxima de desgraça no mundo. Desde então, seu povo padece, sofre, sangra, chora e não para de contabilizar os mortos. Já são mais de cinqüenta mil e, possivelmente, esse número ultrapasse a casa dos duzentos mil. É infortúnio demais para uma ilha tão pequena!

O Haiti virou manchete. Vive, sem poder desfrutar, seus quinze minutos de fama global! Tornou-se o centro das atenções externas, mas, internamente, perdeu suas referências e segue sem rumo e sem direção.

A imprensa está lá, fazendo seu trabalho: prestação de serviços intercalada com cenas fortes e dramatização. Notícia ruim dá IBOP! É a desgraça alheia se transformando em negócio rentável. Longe de mim querer dar uma de moralista e condenar a imprensa. Nada disso. Estou apenas observando que é assim que o mundo funciona. Uns perdem, outros ganham e a roda continua girando. A felicidade do leão é a tristeza da zebra, do guinu,do antílope, não é mesmo? É a morte de uns promovendo a vida de outros.

Tragédias como essa fazem nossas certezas estremecerem e nos mostram o quanto somos reféns dos fenômenos naturais. Se num dia qualquer a Terra desperta mal humorada e resolver se revirar sob nossos pés, ai de nós. Não há o que fazer ou pra onde fugir. Se der tempo, poderemos rezar ou torcer para não sermos destruídos por ela.

E a cabeça se enche de perguntas: Por que acontecem essas tragédias? Há algum sentido em tudo isso?

A ciência se apressou em explicar o ocorrido. Ouvi algo mais ou menos assim: "A causa do desastre está associada à uma falha geológica existente nas proximidades do Haiti. Acomodações ocorridas no interior da Terra liberaram energia acumulada, provocando esse terremoto que atingiu sei lá quantos pontos na escala Richter".

E daí? E os cinqüenta mil mortos? Certo é que essa explicação científica é de pouca ou nenhuma serventia para os sobreviventes no Haiti – famintos, sedentos, desorientados, traumatizados – que perderam tudo, ficando literalmente sem chão e sem teto. Pois quando a terra treme e o céu vacila, quando a dor nos consome e o medo nos domina, quando o presente é caótico e o futuro uma dúvida, o que desejamos ouvir é uma voz forte, amiga, que nos oriente e nos faça crer que não estamos sofrendo à toa e que, aqueles que se foram, não morreram em vão. Essa voz de consolo e esperança não costuma vir da ciência.

E é nesse vácuo deixado pela ciência que o discurso religioso encontra solo fértil para se manifestar e progredir. Isso porque a religião sempre tem uma resposta para tudo, seja para a morte de uma criança, um genocídio, a violência urbana ou a fúria da natureza. Seu efeito é anestésico. Alivia a dor, reduz a ansiedade, tranqüiliza o espírito e conduz o desesperado à zona de conforto em que estava antes da crise ter início. "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum..." (Salmo 23). "Deus é nosso refúgio e fortaleza, socorro sempre presente nas tribulações..." (Salmo 46). "Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (Romanos 8:31).

Falei há pouco sobre ação da imprensa no Haiti e acrescendo aqui o esforço das igrejas. Elas também estão fazendo o seu trabalho: sermões aqui, orações ali, Bíblia acolá. Vão se aproveitando desse momento de alta do medo para investir fortemente na conquista de novos adeptos. Não é minha intenção aqui criticar as igrejas, afinal, é assim que o mundo funciona e as igrejas fazem parte dele.

E já que falei em religião e igrejas, lembro-me que Deus é, na Bíblia, apresentado como o protetor dos pobres, das viúvas e dos órfãos. O Haiti é hoje, por excelência, a terra dos pobres, das viúvas e dos órfãos, um "prato cheio" para Deus. A imprensa está lá, fazendo o trabalho dela e buscando audiência; as igrejas estão por aí, aproveitando-se igualmente da crise para incrementar suas fileiras de adeptos. E Deus, onde está? O que anda fazendo? Sei alguma coisa sobre as instituições humanas, sobre como o mundo funciona, mas admito desconhecer os caminhos, interesses e intenções divinos. Penso, contudo, que se Ele quisesse, poderia se aproveitar também desse momento de luto para revelar ao mundo sua velada face de amor. Os pobres, as viúvas e os orfãos do Haiti certamente ficariam muito agradecidos se Deus fosse hoje, para eles, "socorro bem presente nas tribulações", com afirma o salmo bíblico.
sábado, outubro 24, 2009 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Sei lá...

Às vezes me parece que sim; outras vezes tento crer que não.

Sei que Toquinho e Vinícius transformaram essa pergunta em poesia... e que poesia!

Poesia que vem se tornando popular ao ser cantada todas as noites por Chico e Miúcha na abertura de uma das novelas da Globo.

Título: Sei lá... a vida tem sempre razão
Autores: Toquinho / Vinicius de Moraes


Tem dias que eu fico pensando na vida
E sinceramente não vejo saída.
Como é, por exemplo, que dá pra entender:
A gente mal nasce, começa a morrer.

Depois da chegada vem sempre a partida,
Porque não há nada sem separação.
Sei lá, sei lá, a vida é uma grande ilusão.
Sei lá, sei lá, só sei que ela está com a razão.

clique aqui, caso queira conhecer toda a letra.
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domingo, outubro 18, 2009 | Autor: Ebenézer Teles Borges
O poeta Caetano Veloso inspirou-se na realidade da maior e mais rica cidade do Brasil para compor uma de suas inesquecíveis canções – Sampa – na qual faz menção à "força da grana que ergue e destrói coisas belas". A expressão "força da grana" aqui pode ser entendida como sinônimo de "poder"! Poder que cria o belo e concebe o feio; produz fartura e provoca escassez; constrói palácios e dá forma às favelas; favorece a vida e ocasiona a morte... São Paulo parece ser, de fato, assim. Uma cidade na qual a "força da grana" trouxe consigo o contraste, tornando-a, ao mesmo tempo, imponente e modesta, rica e pobre, luxo e lixo, apressada e vagarosa, acolhedora e inóspita, bonita e feia.

Mas não é meu objetivo aqui falar sobre a cidade de São Paulo, e sim pegar carona na frase de Caetano que sintetiza com precisão e beleza o que me parece acontecer em todo lugar em que há concentração humana, não importando o tamanho desse aglomerado de gente. Observem que o poder, ou a "força da grana", como prefere dizer o poeta, engendra uma realidade assimétrica, na qual o oposto se faz presente e necessário. O progresso traz consigo o retrocesso, e a prosperidade de uns impõe a decadência a outros.

A desigualdade social encontra equilíbrio na posse do poder. De um lado, poucos que podem muito; do outro, muitos que podem pouco. Nada a ver com a república de Aristóteles na qual a autoridade e o poder emanam do povo, em beneficio do qual deveriam ser exercidos. Nada disso. Quando ouço algo parecido, penso que seja pura retórica política ou utopia visionária. O poder sempre foi exercido por quem o detém em benefício próprio. Quanto mais poder se tem, mais poder se quer. Foi assim na antiga Suméria, no Egito dos Faraós, nas monarquias teocráticas de Davi e Salomão, na ditadura romana dos Césares, no feudalismo europeu, na Revolução Francesa, na Alemanha de Hittler e no Brasil do PT e do ex-operário e "homem do povo", Lula.

Não era sobre isso que queria escrever. Infelizmente padeço do mal da dispersão e acabo divagando e perdendo o foco. Fiz mau uso uso da poesia de Caetano... Paciência. Como estou decidido a atualizar o blog hoje, vai esse texto mesmo. Em outra ocasião tentarei desenvolver a idéia original.

E para salvar o texto, resolvi resgatar uma música que ouvia quando criança, de autoria de Dom e Ravel, que trata desse jogo de poder nas relações sociais. Poder esse que frequentemente faz de nós, seres conscientes e inteligentes, mais cruéis que os animais que costumamos rotular de irracionais. O nome da canção não poderia ser outro: "Animais Irracionais".

Às vezes eu olho pra terra sem compreender
A luta dos seres humanos pra sobreviver.
O grande açoitando o pequeno,

Terceiros mandando apartar,

Mas na maioria das vezes o grande não quer parar.

Tem vezes que o desesperado se põe a pensar (a pensar)
Por que deve aos pés de um dos grandes se ajoelha?

Eu passo por muitas igrejas pedindo respostas de Deus

Pra ele calado no espaço ouvir os lamentos meus.


(refrão)

Animais (animais) nós os homens somos todos meio
Animais irracionais
Levantamos, guerreamos e deitamos e rezamos antes
A vida é um sonho e nada mais. Oh! cantem atrás.

quinta-feira, julho 16, 2009 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Ninguém se deita jovem numa noite e acorda velho na manhã seguinte. Envelhecemos aos poucos. Mudanças sutis, pequenas, minúsculas, quase insignificantes e nem sempre perceptíveis vão se acumulando ao longo do tempo e transformando a criança em adulto e o novo em velho. A aritmética é simples: cada dia que passa nos deixa um dia mais velho.

Nem sempre nos damos conta do valor de um dia. Mas há um dia diferente, em que levamos um susto, pois constatamos que, de um em um, os dias se acumularam e se transformaram em ano. Hoje é esse dia para mim, o dia do susto. Completei mais um ano de vida! Estou um ano mais velho!

Susto à parte e pensando melhor, não me parece apropriado empregar a palavra "velho" a minha pessoa. Permitam-se substituí-la por "maduro". Hoje estou ficando um ano mais maduro e tenho muitos motivos para comemorar. Então vamos lá: Parabéns para mim!

Devo admitir que, na maior parte do tempo, viver tem sido bom. Aos poucos venho aprendendo a dominar a sublime arte de construir momentos felizes e de dar maior sentido ao meu existir. Hoje consigo lidar melhor com meus fracassos, bem como desfrutar com mais intensidade de minhas conquistas. Portanto, parabéns para mim!

Tenho um lugar para o qual posso retornar ao final de cada dia de trabalho. Um lugar a que chamo de "lar". Um espaço pequeno e simples, porém aconchegante e acolhedor, seguro e protetor. Gosto de nele me abrigar, de me largar, de me sentir "em casa" em minha casa. E por ter esse espaço, parabéns para mim!

Mais que ter um lar, tenho também Alguém para quem voltar. Isso faz toda a diferença... Milhões e milhões de pessoas em São Paulo! Quanta gente! ... Quem sou eu nessa multidão? Um dado estatístico? Um mero figurante? Talvez... Mas, nessa selva de pedra, construímos juntos um ninho. Temos um lar. Tenho Alguém para quem voltar e com quem seguir adiante pelos caminhos incertos da vida. Alguém que aposta em mim, sempre: na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na abundância e na escassez. Alguém para quem não sou figurante e sim o ator principal. Alguém que consegue fazer de mim um homem rico, a despeito das muitas contas que tenho a pagar. E por ter Alguém e ser de Alguém, parabéns para mim!

Meus pais ainda estão vivos. Idosos, é verdade... Acabei de visitá-los... Eles estão bem. Às vezes doentes e cansados, outras vezes bem dispostos e animados. Fizeram por mim o melhor que puderam e hoje estou aqui, tocando a vida em frente e preservando certos valores que eles souberam me transmitir. E por isso posso dizer em alto e bom tom: parabéns para mim!

Tenho irmãos e tenho amigos! Não são muitos, mas valem por muitos! Não nos vemos sempre. Contudo, mesmo na distância e na ausência, ainda estamos ligados. Preciso encontrar tempo para investir nessas amizades! Eis aí um desafio e uma meta! Parabéns para mim!

E tenho saúde - posso andar e adoro correr! Estou sem tempo para treinar, mas mesmo assim, conseguiria correr tranqüilamente dez quilômetros agora mesmo. Nos últimos dias, andei pegando uma gripe... Mesmo assim, não posso negar que tenho saúde. Estou me alimentando melhor e, nos últimos anos, até ganhei uns "quilinhos"! Portanto, parabéns para mim!

Tenho muitas perguntas sem respostas... Devo ser grato por isso também? É claro que sim. Aprendi que não são as respostas que movem o mundo e sim as perguntas. O mundo e a vida são mistérios que me fascinam. Como não perguntar? Então, por essa curiosidade sem limites, parabéns para mim!

E eu poderia ir aqui acrescentando outros tantos motivos para comemorar esse aniversário com o coração agradecido, mas vou parar por aqui, pois não quero despertar a inveja alheia (rs). Brincadeiras à parte, é hora de comemorar! Estou em casa e hoje é meu dia! Então, parabéns para mim!
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