quinta-feira, janeiro 20, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
O dia está prestes a findar. O sol caminha lentamente em direção ao poente, enquanto nuvens escuras se concentram nas encostas da Serra do Mar. É verão e o que se vê não parece inusitado nem ameaçador. A vida segue seu caminho. Uns trabalham, outros descansam, turistas aproveitam suas férias na montanha.

O tempo passa. O céu se torna mais negro. O sol adormece e o dia se faz noite, precocemente. Começa mais um espetáculo da natureza.

O vento rosna. Raios inflamados lampejam no céu. Trovões raivosos fazem sua voz soturna e grave ecoar pelo vale. A serra imponente contempla em reverência a demonstração de força que brota do âmago de nuvens escuras e densas. As comportas do céu se abrem despejando chuva em profusão. É o começo do fim. Dilúvio. Destruição.

A chuva não pára, pelo contrário, intensifica-se. O que antes parecia mais uma chuva de verão adquire contornos dramáticos de juízo final. A natureza se mostra hostil, indomável e furiosa, expondo sua face sombria, assustadora e mortal, despertando o medo adormecido nos corações de adultos e crianças.

Com efeito, em tais situações, é difícil distinguir adultos de crianças. Estatura e a idade deixam de ser referenciais confiáveis. Todos se nivelam e se igualam em impotência e fragilidade, cientes da pequenez e insignificância da existência humana. Ambos temem pela vida que vacila, pela morte que se aproxima, pelo fim que parece iminente e, talvez, inevitável.

O alarido da natureza em fúria abafa a voz rouca de pais aflitos e filhos desesperados que clamam em vão pelo auxílio que não vem. Evocam-se santos, enunciam-se promessas, apega-se pela fé a uma "mão invisível" que, naquele instante de desespero, parece ser o que de mais sólido há em que se possa agarrar.

Dinheiro, poder, prestígio - tudo perde o valor. São impotentes, insignificantes, incapazes de tocar o coração da natureza, que não os reconhece nem respeita. Para ela (a natureza), homens, animais, árvores e pedras se equivalem e recebem o mesmo tratamento.

O tempo passa. A tempestade recrudesce. A esperança fraqueja. A racionalidade cede lugar ao instinto de sobrevivência. É "cada um por si e Deus por todos". Salve-se quem puder!

Enquanto isso, pequenos regatos de águas cristalinas, atrações turísticas da região, transformam-se em torrentes caudalosas que descem das encostas com violência e furor, alagando o vale abaixo onde, outrora, prosperavam belas cidades serranas. Árvores são arrancadas do solo. Pedras enormes se desprendem e iniciam sua trajetória mortal de horror e destruição. A Serra se derrete e escorre como se fosse areia. Rios de lama formam cachoeiras. A geografia da região é reconfigurada. Casebres e mansões são aterrados, lares desfeitos, corpos humanos esmagados. Nada parece resistir à força e à fúria da natureza.

O que está acontecendo? Será a mão do destino, do divino ou do diabólico? Para muitos, não há tempo para respostas, não há sequer tempo para a vida. A morte os venceu.

E os que sobrevivem a esse drama tentam juntar os trapos e seguir em frente.

E os que, de longe, contemplamos a tudo sem por o pé na lama, encontramos tempo para fazer perguntas e procurar respostas. E muitos afirmam que tem, sim, as tais respostas... Eu não chego a tanto...

Para mim, não há respostas, mas há escolhas. Posso escolher acreditar que foi tudo obra do acaso, ou que foi a mão de Deus, ou ação das forças do mal. E essas escolhas, embora não mudem os fatos, afetarão o modo como eu os encaro e, certamente, influenciarão minha vida.

Seja como for, o verão prossegue. Chuvas voltarão a cair. Novas tragédias ocuparão os telejornais. Muito será dito e, provavelmente, pouco será feito... Coisas da vida! Coisas do Brasil!
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2 comentários:

On 20 de janeiro de 2011 às 15:41 , Enéias Teles Borges disse...

As notícias de 2011 são iguais às de 2010 e daí por diante. Nada é feito, nada foi feito e possivelmente nada será feito.

Fazer o quê?

 
On 14 de maio de 2012 às 01:14 , Anônimo disse...

Imagine... se alguém começa a dar marretadas nas paredes da própria casa, jogar lixo na privada, arrancar pedaços do chão, perfurar o telhado, etc. Vai chegar um dia que as paredes vão cair, o poço negro vai entupir, o telhado quebrado vai desabar. E de quem é a culpa???

Tudo na vida segue um príncípio básico...
"Ação e Reação"
Ou seja, tudo retorna! Os seres humanos vem interferindo no equilíbrio natural da vida, assim, as tragédias naturais são as "reações" provocadas pelas "ações" nada ecológicas que os humanos vem tendo há décadas... Então, devemos cuidar do planeta Terra, é nossa casa. Afinal, a Natureza NÃO precisa dos humanos por aqui, porque as pessoas destróem o próprio habitat e o habitat dos outros animais também. Mas NÒS precisamos da Natureza, quem consegue viver sem ar, água, alimento, luz solar???
Devemos cuidar do planeta Terra, é nossa casa.
Tudo que se faz à Terra, fazemos a nós mesmos.
E existe um outro princípio... o da sobrevivência... tudo o que tem vida tem consciência. E a Natureza está reagindo para se rearranjar, para se manter viva, se é de um jeito hostil, culpa do homem. Alguém que leva porrada, vai reagir, e não vai ser nada gentil.
Então, devemos mudar a nós mesmos, ser mais conscientes, pois somos parte da vida, da natureza. Queremos um planeta mais harmonizado, então devemos preservar os recursos naturais aprendendo mais sobre sustentabilidade.
Quer se manter vivo, preserve!

 
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