quarta-feira, janeiro 19, 2011 | Autor: Ebenézer Teles Borges
Tenho percebido com certa freqüência nos telejornais, a associação livre entre a catástrofe ocorrida na serra do Rio e o alardeado fenômeno do aquecimento global. É certo que não tenho autoridade acadêmica para discordar dessas colocações, mas aprendi, com os anos, a desconfiar do senso comum e da lisura de alguns conteúdos jornalísticos.

Chuvas intensas ocorrem com regularidade nos verões brasileiros. Nessa estação, deslizamentos de encostas na Serra do Mar acontecem sistematicamente. Nem sempre no mesmo lugar. Às vezes no Rio, outras vezes em São Paulo, em Santa Catarina e por aí vai. Pedras enormes e árvores de grande porte descem ladeira à baixo, envoltas em lama e barro, arrasando tudo que encontram pela frente. Rios transbordam, alargam suas margens e invadem regiões ribeirinhas. Nada disso é novidade. Já era assim nos dias de Cabral.

Quando acidentes naturais acontecem em regiões pouco habitadas ou completamente desabitadas não dão "ibope" e, conseqüentemente, não ecoam na mídia. Se a serra carioca ainda estivesse despovoada, essa mesma chuva que desabou por lá não seria forte o bastante para merecer quinze minutos do horário nobre das TVs brasileiras.

O que despertou a atenção para esse evento foi o elevado número de vítimas humanas, mais de setecentos óbitos até o momento. Esse elevado número de mortes induz-nos a supor que a natureza esteja em mutação e a intensidade das chuvas aumentando, quando o que de fato aumentou foi a ocupação humana, desordenada, em áreas de risco.

Foi a combinação desses dois elementos (chuvas de verão x ocupação humana de áreas de risco) que transformou um fenômeno natural e previsível em tragédia de comoção nacional.

Não tenho motivos para duvidar da afirmação de especialistas quanto ao aquecimento global, mas deduzir que o que vem acontecendo aqui no Brasil seja conseqüência desse aquecimento global me parece uma conclusão prematura demais. Nosso problema é outro e igualmente conhecido por todos: falta de planejamento, falta de investimento, falta de... Nossa! Faltam tantas coisas nesse nosso Brasil!

E por falar em chuva e serra, estou passando uns dias em Bertioga, no litoral de São Paulo. Tem chovido muito por aqui. Enquanto escrevo, ouço o retumbar dos trovões. A Serra do Mar circunda a cidade. Uma enorme e imponente muralha verde que parece desafiar o céu ao reter as densas e negras nuvens de chuva. Oitenta e cinco por cento do município (85%) é coberto pela vegetação natural, a densa e exuberante florestal tropical. Não há ocupações irregulares de encostas e, por conseguinte, não há espaço para tragédia semelhante à que ocorreu na mesma serra, no estado do Rio.
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1 comentários:

On 19 de janeiro de 2011 às 18:03 , Enéias Teles Borges disse...

Pois é: existem criacionista que veem nisso o ECOmenismo. algo ligado à Lei Dominical.

Concordo com você.

 
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