domingo, maio 16, 2010 | Autor: Ebenézer Teles Borges
A propósito do artigo "Sobre a vida após a morte..." publicado no site "Convictos ou Alienados", achei por bem colocar aqui minhas impressões: renascer após a morte do corpo, sobreviver ao decaimento da matéria, viver eternamente no tempo, tem sido um sonho da humanidade. De certa forma, somos todos Ponce de Leon em busca da fonte da eterna juventude.

Nesse aspecto não me diferencio dos demais. Cresci acreditando em vida eterna num paraíso encantado onde todos se vestem de branco, tocam harpas e não se cansam de exclamar "Aleluia"! Um lugar onde não há dor, morte, perigos, riscos ou qualquer tipo de ameaça. Um lar de paz...

Paz? Sim. Paz para sempre. Nenhum conflito, nenhuma desavença, nenhuma intriga, nenhuma divergência, nenhuma discordância... Será que eu seria feliz vivendo eternamente em tal lugar? Não sei. Tenho cá minhas dúvidas. Às vezes me parece que viver eternamente possa não ser tão bom quanto costumamos supor. E me sinto tentado a imaginar que até os maiores defensores desse viver sem fim, depois de alguns séculos ou milênios, começariam a se sentir incomodados pela paz inabalável e quietude rotineira desse lugar e passariam a entender melhor o significado da palavra "tédio".

Vida eterna nesse paraíso implica em ausência de risco, e não posso negar que, aos meus olhos, os riscos são ingredientes indispensáveis ao tempero do existir, diferenciando fatos comuns de eventos marcantes, inesquecíveis.

Além disso, na economia da vida (desta vida que é a única que conhecemos), o valor das coisas está associado, em parte, ao seu grau de escassez. Ouro e diamante têm grande valor porque não existem às pencas como seixos e cascalho. De igual modo, essa vida que temos é ouro e diamante justamente por ser curta e fugaz. Cada dia vivido nos aproxima do fim inevitável. Cada passo que damos nos conduz à morada do silêncio, à terra do esquecimento, aos braços da morte. Sabemos disso. Sabemos que a vida não é eterna e nos apegamos a ela com unhas e dentes, dando-lhe o valor que, de fato, ela merece ter. A morte torna a vida preciosa!

Gosto de viver, a despeito das dores e dissabores que fazem parte do meu existir. A grandeza do universo e a inocência de uma criança são exemplos de fenômenos que me encantam e emocionam. E há tantos outros mistérios que gostaria de desvendar, tantas experiências inusitadas que gostaria de vivenciar, tantos caminhos que ainda desejo percorrer... Meus dias são tão curtos, tão breves, tão insuficientes para me ensinar tantas lições, que às vezes me pego dominado pelo sentimento irracional de revolta, de ódio contra sei lá quem ou o quê. E me vejo perguntando: Por que a vida é assim, tão injusta, tão curta? Por que vivemos tão pouco? Que são 40, 70 ou 100 anos de vida quando comparados aos milênios de história da raça humana?

Quero viver mais sim, admito, mas isso não significa que deseje viver para sempre. Temo os superlativos e costumo evitar o uso de palavras que expressam o absoluto, tais como "sempre", "todos", "eterno" e outras do gênero. Quero viver mais. Quero viver muito. Quero viver o suficiente para poder afirmar: "já vivi o bastante". Admito o meu receio de viver eternamente...

Curiosamente, as religiões ensinam que nosso maior inimigo é o EGO. Aprendi essa lição quando criança, embora, naquela época, não a tenha entendido. Ego? O que é isso?

Ego, penso eu hoje, é esse algo que insiste em ter, em ser, em estar, em viver eternamente... No dia em que conseguirmos nos desprender dele, como recomendam as religiões, sobrará algo que possa desejar viver eternamente?
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7 comentários:

On 16 de maio de 2010 às 23:02 , Enéias Teles Borges disse...

Outro dia eu sonhei com algo ligado ao envelhecimento. Acordei assustado! Eu completara 50 anos! Quando acordei eu me dei conta que tenho 47 e logo mais 48... Está acabando. Não sei se é o fim do começo ou o começo do fim.

Bela reflexão!

SDS

 
On 17 de maio de 2010 às 08:40 , CH disse...

Ebenézer,

Seu texto demonstra que a busca pela vida eterna não tem nada de racional, pois crê que de alguma forma, suportaremos esse tédio ao mesmo tempo em que manteremos o ego!

Quem garante que lá não esteja Raul, pensando:

"Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto: e daí?"

Ao que Nietzsche lhe explicaria:

"Amamos o ato de desejar mais do que amamos o objeto desejado".

Pensando bem, com Raul e Nietzsche vivendo eternamente, tedioso é que não vai ser.

 
On 17 de maio de 2010 às 19:21 , Ykhro disse...

“Ser” e “estar” são condições com que nos identificamos dentro do tempo ou do espaço.
São justas as preocupações desse belo post aqui publicado pelo autor, no blog.
Considerando, então, que pensar nessas duas condições que comecei mencionando não é certamente o mesmo que estarmos imersos nelas, tenho a impressão de que podem ser intensas algumas (digamos) sensações para as quais paradoxalmente não precisemos dos atuais dispositivos sensoriais responsáveis (inclusive) pela impressão que se traduz como tédio.
Mas isto é apenas um exercício a que me permito, de mera especulação.
Algo como: “deixar estar”.

 
On 17 de maio de 2010 às 21:11 , Ricardo disse...

"Quero viver mais. Quero viver muito. Quero viver o suficiente para poder afirmar: já vivi o bastante".

E pra quê mais do que isso?

Tomei a liberdade de colocar um link para sua postagem no meu blog.

Abraços.

 
On 20 de maio de 2010 às 22:06 , Edleuza disse...

Só sei que, semelhante ao poeta, desejo imensamente que tudo o que for bom nessa vida "...seja eterno enquanto dure". Viver essa vida com intensidade já seria uma conquista incrível.

Lindo texto, parabéns!

 
On 23 de maio de 2010 às 12:15 , Anônimo disse...

Pois é, nesta linha de pensamento talvez os budistas estejam mais certos. Pelo que sei eles não crêem em um Deus pessoal, mas assim, quando alcançamos a perfeição através de sucessivas reencarnações nos diluímos no Todo, como uma gotinha no oceano e já não reencarnamos mais. Porém eu não sou budista rs... E só de uma coisa não quero perder a fé: de que tudo há um propósito, e nada é em vão e nem por miserável acaso de ser.

Beijos na alma, amigo!

 
On 5 de janeiro de 2011 às 00:11 , Unknown disse...

Tudo é suposição e com certeza que na eternidade teremos missões...
A bíblia diz que construiremos casa e plantaremos vinha...
Além disso, a vida é um eterno aprendizado.

Sobretudo: A vida é corpo, alma e espírito.
O corpo interage com o mundo físico de modo direto.
Não teria sentido se apenas nascemos e morremos como se nunca tivéssemos vivido.
Já parou para pensar na grandeza do Universo?
Quantas formas de vida e formas de vivê-las existem?
É em vão nossa filosofia diante da grandeza do Universo.
Deus existe e está fora do sistema de sua criação.

 
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