sexta-feira, janeiro 18, 2008 |
Autor: Ebenézer Teles Borges
O que você enxerga na figura ao lado? Qual é a "verdade" que ela encerra? Vou responder, mas não agora. Antes, quero tecer alguns comentários sobre um e-mail que recebi hoje, de viés religioso, que discorria sobre o tema desse artigo. O assunto "verdade" sempre desperta em mim grande interesse e, desta vez, me motiva a escrever e postar aqui minha opinião a respeito. Sei, de antemão, que estou adentrando num labirinto do qual, muito provavelmente, sairei do jeito que entrei, isto é, sem saber ao certo por onde andei. Afinal, o que é a verdade? E o que é verdade progressiva?
Há muito venho procurando por uma resposta satisfatória. Reconheço, até aqui, a minha frustração. Disseram-me, algures, que "não existem respostas, apenas escolhas". Se assim for, então cada um poderá escolher sua própria verdade. Grupos de pessoas poderão eleger para si a verdade que lhes seja mais apropriada ou conveniente entre as tantas que existem, por exemplo: a verdade dos católicos, a dos evangélicos, a dos espíritas, a dos muçulmanos e por aí vai. Mas ao concluir dessa forma não estaria eu a confundir "verdade" com a "crença de algo é verdade"?
Crer que algo é verdade não torna esse algo em verdade. Há consenso quanto a essa afirmação. Posso crer, por exemplo, que a Lua seja feita de queijo, porém, o que a Lua é independe de minha crença pessoal. O mundo inteiro pode acreditar que a Lua seja um enorme queijo suíço, mas essa crença, ainda que se torne popular e universal, não mudará a natureza da Lua. A crença não legisla sobre a verdade.
Durante séculos a humanidade foi acumulando informações sobre o planeja Júpiter. Quando, porém, Galileu o observou através de uma luneta, enxergou algo inusitado: quatro luas até então desconhecidas. A verdade a respeito do planeja Júpiter foi acrescida de novos ingredientes. A isso damos o nome de "verdade progressiva". Galileu não inventou esses quatro satélites. Eles sempre estiveram lá. Nós é que não os enxergávamos, por pura limitação de nosso aparato visual. Com o advento do telescópio, nosso campo visual foi ampliado e passamos a enxergar o que antes não víamos – repetindo: verdade progressiva!
Imaginemos agora uma situação absurda: vamos supor que, ao tentar observar Júpiter pelo telescópio, Galileu constatasse que ele nunca existiu, que se tratava apenas de uma ilusão de ótica (estou realmente forçando a barra neste exemplo). Nesse caso, sua descoberta não deveria ser tomada como uma verdade progressiva, pois teria feito ruir tudo que se julgava saber sobre Júpiter. Restar-nos-ia a atitude humilde e honesta de substituir o que se constatou ser falso pela nova verdade descoberta, a de que Júpiter seria apenas uma ilusão visual.
Ao avançar para o campo religioso em busca do entendimento de "verdade" e "verdade progressiva", o cenário se torna por demais nebuloso. Aqui nada é concreto e tangível como a Lua ou o planeta Júpiter. Mudam-se os referenciais e a terminologia. Fala-se de profecias, doutrinas, dogmas, milagres. Usam-se palavras impregnadas de sentidos dúbios como: reino de Deus, pecado, redenção, (re)encarnação, arrebatamento, apostasia, Babilônia, céu, inferno, purgatório e tantas outras. Termos subjetivos, diáfanos, etéreos, vagos, que, para muitos, não significam absolutamente nada, ao passo que, para outros, constituem-se em questão de vida ou morte... Afinal, do que estamos falando? De verdades ou de crenças? - verdades progressivas ou crenças progressivas?
Vou emitir meu parecer: Não aprecio a expressão "verdades religiosas". Prefiro substituí-la por "crenças religiosas". A meu ver, essa simples substituição de uma palavra provoca um impacto significativo, porque "crenças", no contexto religioso, não exigem provas racionais, e sim fé.
Reli, recentemente, o livro "Teologia da Crise" de Emil Bunner. Emil Brunner foi um dos maiores teólogos do século XX, ligado à Igreja Reformada Suíça. Ao falar sobre "Deus" ele assim se expressa: "A fé apenas pode provar a realidade de Deus porque Deus não pode ser reconhecido pela razão teórica, mas deve ser compreendido por um ato de decisão" (pág. 69).
Há muito venho procurando por uma resposta satisfatória. Reconheço, até aqui, a minha frustração. Disseram-me, algures, que "não existem respostas, apenas escolhas". Se assim for, então cada um poderá escolher sua própria verdade. Grupos de pessoas poderão eleger para si a verdade que lhes seja mais apropriada ou conveniente entre as tantas que existem, por exemplo: a verdade dos católicos, a dos evangélicos, a dos espíritas, a dos muçulmanos e por aí vai. Mas ao concluir dessa forma não estaria eu a confundir "verdade" com a "crença de algo é verdade"?
Crer que algo é verdade não torna esse algo em verdade. Há consenso quanto a essa afirmação. Posso crer, por exemplo, que a Lua seja feita de queijo, porém, o que a Lua é independe de minha crença pessoal. O mundo inteiro pode acreditar que a Lua seja um enorme queijo suíço, mas essa crença, ainda que se torne popular e universal, não mudará a natureza da Lua. A crença não legisla sobre a verdade.
Durante séculos a humanidade foi acumulando informações sobre o planeja Júpiter. Quando, porém, Galileu o observou através de uma luneta, enxergou algo inusitado: quatro luas até então desconhecidas. A verdade a respeito do planeja Júpiter foi acrescida de novos ingredientes. A isso damos o nome de "verdade progressiva". Galileu não inventou esses quatro satélites. Eles sempre estiveram lá. Nós é que não os enxergávamos, por pura limitação de nosso aparato visual. Com o advento do telescópio, nosso campo visual foi ampliado e passamos a enxergar o que antes não víamos – repetindo: verdade progressiva!
Imaginemos agora uma situação absurda: vamos supor que, ao tentar observar Júpiter pelo telescópio, Galileu constatasse que ele nunca existiu, que se tratava apenas de uma ilusão de ótica (estou realmente forçando a barra neste exemplo). Nesse caso, sua descoberta não deveria ser tomada como uma verdade progressiva, pois teria feito ruir tudo que se julgava saber sobre Júpiter. Restar-nos-ia a atitude humilde e honesta de substituir o que se constatou ser falso pela nova verdade descoberta, a de que Júpiter seria apenas uma ilusão visual.
Ao avançar para o campo religioso em busca do entendimento de "verdade" e "verdade progressiva", o cenário se torna por demais nebuloso. Aqui nada é concreto e tangível como a Lua ou o planeta Júpiter. Mudam-se os referenciais e a terminologia. Fala-se de profecias, doutrinas, dogmas, milagres. Usam-se palavras impregnadas de sentidos dúbios como: reino de Deus, pecado, redenção, (re)encarnação, arrebatamento, apostasia, Babilônia, céu, inferno, purgatório e tantas outras. Termos subjetivos, diáfanos, etéreos, vagos, que, para muitos, não significam absolutamente nada, ao passo que, para outros, constituem-se em questão de vida ou morte... Afinal, do que estamos falando? De verdades ou de crenças? - verdades progressivas ou crenças progressivas?
Vou emitir meu parecer: Não aprecio a expressão "verdades religiosas". Prefiro substituí-la por "crenças religiosas". A meu ver, essa simples substituição de uma palavra provoca um impacto significativo, porque "crenças", no contexto religioso, não exigem provas racionais, e sim fé.
Reli, recentemente, o livro "Teologia da Crise" de Emil Bunner. Emil Brunner foi um dos maiores teólogos do século XX, ligado à Igreja Reformada Suíça. Ao falar sobre "Deus" ele assim se expressa: "A fé apenas pode provar a realidade de Deus porque Deus não pode ser reconhecido pela razão teórica, mas deve ser compreendido por um ato de decisão" (pág. 69).
A palavra "decidir" em sua origem etimológica significa "separar cortando", "eliminar alternativas"[1], o que nos conduz de volta ao que já foi citado anteriormente: "não existem respostas, apenas escolhas", apenas decisões. Uns escolhem crer em Maomé, outros em Buda, outros em Jesus. Dos que crêem em Jesus e na Bíblia, alguns decidem aceitar como fidedignos os milagres realizados por Nossa Senhora de Lourdes, nos quais outros tantos preferem não acreditar.
Essas "crenças religiosas" não estão estagnadas, e sim em constante evolução. A sociedade muda, trazendo à baila novas necessidades e situações que exigem novas reações e novas crenças. Fala-se muito hoje, por exemplo, em "prosperidade". Basta ligar a TV num programa evangélico para constatar o que digo. Parece-me que Deus, aos poucos, vai deixando de ser o Senhor e passa a ser um "escravo" dos crentes e de suas ambições materiais. Pouco se fala em um céu distante e futuro. O céu é aqui e agora. Verdade progressiva? Não me parece que seja. Crença progressiva? Pode ser...
Essas "crenças religiosas" não estão estagnadas, e sim em constante evolução. A sociedade muda, trazendo à baila novas necessidades e situações que exigem novas reações e novas crenças. Fala-se muito hoje, por exemplo, em "prosperidade". Basta ligar a TV num programa evangélico para constatar o que digo. Parece-me que Deus, aos poucos, vai deixando de ser o Senhor e passa a ser um "escravo" dos crentes e de suas ambições materiais. Pouco se fala em um céu distante e futuro. O céu é aqui e agora. Verdade progressiva? Não me parece que seja. Crença progressiva? Pode ser...
Sobre a figura: A parte mais escura, à esquerda, delineia um homem narigudo, de perfil, tocando saxofone; na parte clara, à direita, vê-se o rosto de uma mulher. Mas, sinta-se à vontade para tentar enxergar o que quiser, por exemplo: o homem pode não estar tocando saxofone, e sim fumando um cachimbo...
Referências Bibliográficas
[1] Palavra "decidir" – Dicionário Houaiss - http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=decidir&stype=k
Categoria:
religião
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2 comentários:
Muito bom. É uma pena que poucos estejam dispostos a pensar e agir com a lucidez necessária.
Excelente artigo!
Especialmente a forma muito prática e clara com que distinguiu "verdade progressiva" de "nova verdade" (ou simplesmente "verdade").
Estou atravessando um processo complicado de mudança de paradigmas e confesso que uma das coisas mais difíceis foi ter que admitir que não tenho condições de falar em "verdades religiosas", e sim em "crenças religiosas", e também de que não tenho condições de descobrir "respostas", mas apenas de fazer "escolhas".
Quando o assunto é religião, sempre me preocupei em descobrir as "respostas verdadeiras", mas atualmente me angustio em querer saber se existem "escolhas certas".