quinta-feira, janeiro 17, 2008 | Autor: Ebenézer Teles Borges
2008 mal começou e já não se fala mais em "ano novo". Isso é típico dos tempos modernos, de renovação constante e instantânea, nos quais o novo já nasce enrugado, o moderno com feições antigas e o recente com aspecto retrógrado. Tudo muda o tempo todo e em tal velocidade que surpreende os que conseguem parar e pensar a respeito. Paro pra pensar e constato que o "ano novo", apesar dos poucos dias de existência, não é mais novo, é velho. Precisa de renovação.

Em meio a mudanças tão freqüentes e rápidas, sinto-me dominado por um profundo sentimento de inadequação. Estou ficando para trás. Sinto-me como se não fosse ágil o bastante para acompanhar o ritmo frenético dessa metamorfose sem fim. Por mais que tente me manter no presente, me dou conta de que já fui empurrado para o passado. Tal qual 2008, deixei de ser "novo" e a cada instante me torno mais obsoleto e ultrapassado. Portanto, preciso também de renovação, urgente, a começar pela cabeça.

Minha cabeça é palco de constantes mudanças. Pasmo ao observá-la: cabelos caducam e caem, cedendo lugar a lembranças que nascem e crescem com pujança e rapidez. Lembranças são cabelos que crescem para dentro! Minha cabeça está infestada desse tipo sinistro de cabelo que anuvia a visão. São lembranças que evocam saudades de tempos distantes, nos quais o relógio contava as horas sem pressa e os anos demoravam a passar. Lembranças daqueles tempos em que eu não usava relógio, nem possuía agenda: orientava-me pela voz imperativa da mãe; pelo jogo de luz e sombra que demarcavam a aurora e o crepúsculo, os dias e as noites; pelos fins de semana (em especial o sábado) nos quais a dança dos dias se alterava... Notas substituídas por pausas... E, assim, sem estresse e sem pressa, era registrada, na partitura da vida, a melodia suave e lenta de um viver tranqüilo e saudável.

Falando desse modo, até parece que o passado foi colorido e perfeito e contrasta com um presente sem cor e sem sabor. Mas, é esta uma conclusão digna de crédito? Penso que não. Trata-se, na verdade, de uma distorção, de efeitos (ou defeitos) especiais elaborados com maestria e primor por uma cabeça que realmente precisa de renovação: a minha.

O passado foi bom, não nego, mas não tanto quanto se afigura em tais lembranças ébrias de saudade, embriagadas pelo forte álcool da nostalgia. O passado foi bom na medida em que serviu de base para o hoje, mas pode se tornar pernicioso quando, na forma de lembranças romantizadas, substitui o presente – dádiva divina a ser apreciada com lucidez, sabedoria, presença de espírito e gratidão.

É curiosa a forma como minha cabeça funciona: oscila sempre entre lembranças do passado e inquietações quanto ao futuro. Move-se constantemente da história para a ficção. Descola-se, com extrema naturalidade, do que já morreu para o que ainda não nasceu. Está sempre ausente do presente... Definitivamente, tal cabeça precisa de re-no-va-ção!

Por isso, estabeleço aqui uma meta para 2008: Cuidar melhor de minha cabeça! Como? De duas maneiras: Tentarei (1) evitar a queda de cabelos e (2) impedir que as lembranças se alastrem.

Difícil missão! Meta ambiciosa! Desejo a mim mesmo boa sorte!



Referências Bibliográficas:

Imagem:
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqceYILLvw1vXzJ0wdcrQT9CvvdcJoUB_W1xvTI6dQblpYjWvwumFd_ZiiHN2W6ccc8I1w6ZZGIXNCsVIoC4s4B4JumffWNpiQpDd5JDzIpApXGyLEbTzarvWYbXo9MWNrdoeOqeQkIGkp/s1600-h/vv.jpg
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2 comentários:

On 19 de janeiro de 2008 às 09:27 , Enéias Teles Borges disse...

A diferença de 2007 para 2008 é que no primeiro eu me sentia velho e neste eu me sinto MUITO velho. O tempo passa e a disposição diminui. Sinto uma vontade desesperadora de sair da cidade agitada e ir para um lugar de calma e paz. Fazer o suficiente para sobreviver e me dedicar ao estudo sem compromisso. Seu texto é espelho vivo da atualidade.

 
On 25 de fevereiro de 2008 às 20:58 , Anônimo disse...

Alguém já disse que "a gente nasce sem escolher e morre sem querer"! Então... aproveite o intervalo, "porque a vida é agora".

 
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