sábado, abril 10, 2010 | Autor: Ebenézer Teles Borges
"Prosa" é o que se elabora ao digitar textos iguais a este, organizados em parágrafos e sem nenhuma divisão rítmica intencional. "Poesia", por outro lado, é a arte de usar a linguagem humana com fins estéticos; de dar a elas nuanças sublimes - difusas, mágicas - que as fazem transcender seu significado literal e as capacitam a expressar aquilo que as palavras, por si só, não conseguem dizer.

Gosto de escrever em prosa, sabem por quê? Porque é a único modo em que consigo escrever! Gostaria de saber me expressar em forma de poesia! Gostaria... Mas esse dom me foi negado; essa habilidade, infelizmente, não consegui desenvolver... Até tentei, sem êxito, porque, como assevera a sabedoria popular, "o poeta nasce..."

Contudo, essa minha limitação não me impede de apreciar a sonoridade métrica de um verso, nem me desencoraja da busca pelo significado abstrato que se funde e confunde com sua forma concreta.

É fato que, nem sempre consigo interagir com uma poesia como, suponho, se deve fazê-lo, isto é, por meio do coração. Quase sempre me deixo influenciar pela cabeça pensante e permito que a razão se interponha como elemento mediador. E ao usar esse filtro, a magia se desfaz. E grande parte da arte se esvai. E os segredos se mantêm velados. E os mistérios permanecem ocultos. E a beleza perde o encanto. E o ler poesia se torna mais pesado do que o ler um jornal especializado em economia...

Em tempos tão corridos, ler prosa tem-se mostrado mais prático e eficiente do que ler poesia. Poesia requer atenção, concentração, sensibilidade, entrega, dedicação, abstração, reflexão e tempo. E quem, hoje em dia, tem tempo para poesia?

Ah! Mas hoje, sábado. E neste hoje, encontrei um tempinho para apreciar uma poesia de inspiração religiosa, que encerra em seus versos tal profundidade e beleza que eu, com minha prosa inculta e insossa, nunca serei capaz de expressar...

E me percebo acometido por um dos sete pecados capitais: a inveja! Como gostaria de ser poeta! Como gostaria de ter esse dom! Como gostaria de ter sido eu o autor de tão bela obra de arte! Como gostaria de... Opa! "Para trás, Satanás"!

O que transcrevo, abaixo, é poesia, pura poesia: arte de dizer o indizível, de dar forma ao informe; de tocar o intocável. E por mais que eu multiplique aqui minhas débeis palavras, não conseguirei transmitir o que essa poesia, em sua simplicidade e beleza, consegue expressar... porque não sou poeta, não tenho alma de poeta, não aprendi usar palavras para superar as limitações e incongruências inerentes às palavras. Resta-me, então, resignar-me em silenciosa admiração - estático e extático.

Faço-lhe um convite: aprecie comigo a poesia de Tereza de Ávila, que viveu no século XVI e foi canonizada cem anos mais tarde.

A Cristo crucificado

Não me move, meu Deus, para querer-te
O céu que me hás um dia prometido:
E nem me move o inferno tão temido
Para deixar por isso de ofender-te.

Tu me moves, Senhor, move-me o ver-te
Cravado nessa cruz e escarnecido.
Move-me no teu corpo tão ferido
Ver o suor de agonia que ele verte.

Moves-me ao teu amor de tal maneira,
Que a não haver o céu, ainda te amara
E a não haver o inferno te temera.

Nada me tens que dar porque te queira;
Que se o que ouso esperar não esperara,
O mesmo que te quero te quisera.
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3 comentários:

On 10 de abril de 2010 às 19:31 , Edleuza disse...

Você já nasceu poeta... Parabéns pelo texto!

 
On 12 de abril de 2010 às 19:42 , Cleiton Heredia disse...

As três primeiro estrofes são realmente lindas. A quarta e última tenho certeza que também acharia lindo caso conseguisse entender.

 
On 16 de abril de 2010 às 17:00 , Enéias Teles Borges disse...

A poesia é bonita. Eu gostaria poder acreditar que fosse assim...

 
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