sexta-feira, novembro 23, 2007 | Autor: Ebenézer Teles Borges

Anteontem à noite perdi meu precioso tempo assistindo à fraca exibição da seleção brasileira (Brasil 2 x 1 Uruguai). Não entendo muito de futebol. Sendo mais honesto, não entendo quase nada, mas desde cedo ouvi dizer que vivo no país do futebol e que "nossos" atletas são melhores do que os outros. Por ouvir afirmações dessa natureza desde cedo, cresci acreditando nelas. Mas há anos venho desconfiando da veracidade dessa crendice popular. Será que vivo mesmo no país do futebol?

Parece-me que nos transformamos em exportadores de mão-de-obra (ou matéria-prima?) para torneios de futebol rentáveis como o espanhol e o italiano. Jogar bola no "país do futebol" está deixando de ser um bom negócio. Quem permanece aqui, dificilmente terá condições de concorrer com os "estrangeiros" e ser integrado à seleção nacional. Por outro lado, quem sai daqui e se dá bem lá fora parece perder a motivação para defender a seleção...

Para mim, se o Brasil algum dia foi o país do futebol, hoje não o é mais. Não pode ser!

Minha primeira dúvida (quase desapontamento) a esse respeito surgiu nos anos 70, em meio à euforia do terceiro título mundial. Naquele tempo, morando no interior e sem TV em casa, descíamos em família até o centro da cidade para acompanhar alguns jogos numa "caixinha fantástica" que encantava os adultos e exibia imagens em preto-e-branco. Eu era muito novo para captar todas as nuances envolvidas naquele evento que se desdobrava ainda sob forte influência do regime militar, mas me sentia profundamente contagiado pela magia do momento e pelo entusiasmo da multidão que despertava em mim até mais interesse que as cenas monótonas e aparentemente repetitivas exibidas na telinha descolorida. Foi nesse contexto que aprendi que éramos os melhores e essa descoberta foi, em si, a primeira surpresa não muito agradável.

Deixe-me tentar ser mais claro. No início dos anos 70 as crianças, entre as quais me incluía, não tinham tanto acesso a informações quanto hoje. Não havia internet e os demais veículos de comunicação não eram tão ágeis quanto os atuais. A vida transcorria em "câmera lenta". Meu mundo se restringia à família e a alguns amigos, numa pacata cidade do interior. Até então, para mim, o Brasil não era o melhor, era o único. Descobri que existiam outros... Isso seria bom ou ruim? Ainda não sabia, mas fiquei ciente de que o desconhecido causava em mim desconforto. Mas os outros, os quais desconhecia por completo, nos eram inferiores. Éramos os melhores. Que alívio!

Melhores em quê? No futebol? Não. Em tudo! Assim pensava enquanto infante. O tempo, contudo, se encarregou de desvelar-me a verdade nua e crua. Os indicadores sociais, políticos e econômicos não nos eram favoráveis. Restava-se agora, como último consolo, a crença em nossa superioridade no futebol.

Mas hoje essa certeza não mais me acompanha e há muito deixou de me consolar. Não me parece que a última apresentação da seleção tenha sido um caso isolado. Fiquei convencido de que, pelo menos no futebol, podemos contar quase sempre com a sorte. Não temos a raça uruguaia, mas temos sorte! Não temos o amor à camisa dos argentinos, mas temos sorte! Não temos a organização dos países europeus, mas temos sorte!

Até quando poderemos contar com essa sorte?

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