terça-feira, junho 03, 2008 |
Autor: Ebenézer Teles Borges
Por muito tempo acreditei que Cabral havia descoberto o Brasil. Ainda me lembro das aulas de História, das gravuras estampando o momento da chegada dos intrépidos portugueses, com suas vestes extravagantes que contrastavam com a nudez escancarada dos nativos tupiniquins. Cabral me parecia um ser especial, talvez um herói que, com poderes quase divinos, teria pronunciado a frase mágica: "Haja Brasil" e, do nada, o Brasil passou a existir.
Exageros à parte, constato hoje o quão ingênuo fui – não passava de um tupiniquim do século XX que, embora mantendo o corpo coberto, conservava a cabeça desnuda e acolhedora, pronta para receber e internalizar o que me fosse apresentado por um marujo qualquer, que se dissesse conhecedor dos mistérios e segredos ocultos no grande mar da ignorância humana.
Embora não seja um especialista em História (e talvez por isso), sinto-me à vontade para questionar o que de fato teria acontecido uns 500 anos atrás, por ocasião do tal descobrimento. Oito anos antes de Cabral, em 1492, Colombo teria descoberto a América, da qual o Brasil faz parte. Logo em seguida, em 1494 e com a bênção da Igreja, Portugal e Espanha dividiram o "novo mundo" entre si ao assinarem o tratado de Tordesilhas. Pouco depois, o rei de Portugal, D. Manuel I, teria encarregado o cosmógrafo e geógrafo Duarte Pacheco Pereira a realizar uma viagem secreta com o objetivo de dar uma espiada nas terras situadas além da linha de demarcação de Tordesilhas. Em 1498, Duarte Pacheco Pereira teria aportado entre o Maranhão e o Pará. Não bastando essa investida inicial dos portugueses, em 26 de janeiro de 1500, o navegador espanhol Vincente Pinzon alcançou a costa do Brasil e tomou posse da terra em nome do rei da Espanha. Por fim, em 22 de abril de 1500, Cabral, em viagem à Índia com suas 17 embarcações, ancorou em solo brasileiro, tornando-se, oficialmente, o descobridor do Brasil. Que bela história! Oficial, certamente; verdadeira, nem tanto.
Até onde sei, não é possível mudar a História. O que se pode mudar, e de fato muda, é o grau de conhecimento que dela temos. Novas investigações costumam nos trazer novas informações. Essas novas informações, por sua vez, podem irradiar luz sobre as sombras do passado, tornando visíveis silhuetas esmaecidas, contornos pálidos, detalhes desbotados, cenários obscuros e verdades até então escondidas sob a grossa poeira do tempo e da ignorância.
Ao estudar e revisar a História, aprendemos que o conhecimento da verdade é construído gradualmente, como se fosse uma dança lenta: dois passos pra frente; um passo pra trás...
Sendo bem honesto, pouco me importa o nome do europeu que primeiro pisou em solo brasileiro. Em nada minha vida seria afetada caso se resolvesse reescrever a história do descobrimento, substituindo o nome de Cabral por outro qualquer, como Duarte Pacheco Pereira ou Vincente Pinzon. Mas tudo isso me faz pensar e me questionar sobre outras histórias que me contaram e que, embora oficiais, talvez não sejam mais verdadeiras que a história da descoberta do Brasil, atribuída a Cabral.
Referências:
1. Imagem - Cabral - http://www.elizabethan-era.org.uk/pedro-alvares-cabral.htm
Exageros à parte, constato hoje o quão ingênuo fui – não passava de um tupiniquim do século XX que, embora mantendo o corpo coberto, conservava a cabeça desnuda e acolhedora, pronta para receber e internalizar o que me fosse apresentado por um marujo qualquer, que se dissesse conhecedor dos mistérios e segredos ocultos no grande mar da ignorância humana.
Embora não seja um especialista em História (e talvez por isso), sinto-me à vontade para questionar o que de fato teria acontecido uns 500 anos atrás, por ocasião do tal descobrimento. Oito anos antes de Cabral, em 1492, Colombo teria descoberto a América, da qual o Brasil faz parte. Logo em seguida, em 1494 e com a bênção da Igreja, Portugal e Espanha dividiram o "novo mundo" entre si ao assinarem o tratado de Tordesilhas. Pouco depois, o rei de Portugal, D. Manuel I, teria encarregado o cosmógrafo e geógrafo Duarte Pacheco Pereira a realizar uma viagem secreta com o objetivo de dar uma espiada nas terras situadas além da linha de demarcação de Tordesilhas. Em 1498, Duarte Pacheco Pereira teria aportado entre o Maranhão e o Pará. Não bastando essa investida inicial dos portugueses, em 26 de janeiro de 1500, o navegador espanhol Vincente Pinzon alcançou a costa do Brasil e tomou posse da terra em nome do rei da Espanha. Por fim, em 22 de abril de 1500, Cabral, em viagem à Índia com suas 17 embarcações, ancorou em solo brasileiro, tornando-se, oficialmente, o descobridor do Brasil. Que bela história! Oficial, certamente; verdadeira, nem tanto.
Até onde sei, não é possível mudar a História. O que se pode mudar, e de fato muda, é o grau de conhecimento que dela temos. Novas investigações costumam nos trazer novas informações. Essas novas informações, por sua vez, podem irradiar luz sobre as sombras do passado, tornando visíveis silhuetas esmaecidas, contornos pálidos, detalhes desbotados, cenários obscuros e verdades até então escondidas sob a grossa poeira do tempo e da ignorância.
Ao estudar e revisar a História, aprendemos que o conhecimento da verdade é construído gradualmente, como se fosse uma dança lenta: dois passos pra frente; um passo pra trás...
Sendo bem honesto, pouco me importa o nome do europeu que primeiro pisou em solo brasileiro. Em nada minha vida seria afetada caso se resolvesse reescrever a história do descobrimento, substituindo o nome de Cabral por outro qualquer, como Duarte Pacheco Pereira ou Vincente Pinzon. Mas tudo isso me faz pensar e me questionar sobre outras histórias que me contaram e que, embora oficiais, talvez não sejam mais verdadeiras que a história da descoberta do Brasil, atribuída a Cabral.
Referências:
1. Imagem - Cabral - http://www.elizabethan-era.org.uk/pedro-alvares-cabral.htm
Categoria:
brasil,
curiosidade,
vida
|
2 comentários:
No livro de Geoffrey Blainey, Uma Breve História do Mundo, ele menciona na página 208 e 209:
"Os portugueses foram os primeiros a alcançar a costa do Brasil. Treze de seus navios, que navegavam em direção à costa da África e daí para a Índia, foram desviados pelos ventos tropicais até a costa do Brasil, onde passaram uma semana em abril de 1500. Daí em diante, os navios portugueses ocasionalmente usavam os portos brasileiro como abrigo na metade do caminho da longa rota até a Índia".
Convém destacar que este livro é um "resumão" da história do mundo, onde 2 mihões de anos de história são resumidos em apenas 342 páginas. Por isso, para conseguir tal poder de síntese, o autor muitas vezes prefere apenas apresentar a versão mais aceita, sem comentar suas possíveis variantes.
Mas é interessante observar que o nome de Pedro Álvares Cabral não é sequer mencionado. Os únicos personagens que o autor destaca na história do descobrimento das Américas são Cristóvão Colombo e Vasco da Gama:
"Essas viagens de Cristóvão Colombo e Vasco da Gama estavam entre os acontecimentos mais importantes da história do mundo desde a lenta invençao da agricultura, milhares de anos antes." Idem, pág. 169.
Uma historieta assim é ruim. Pior? Imaginem o que aconteceu do marco zero até agora, 2008, no que tange a história, principalmente religião.
A história é escrita pelos vencedores e/ou pelos sabidões?
SDS