segunda-feira, junho 02, 2008 |
Autor: Ebenézer Teles Borges
Pois é... não quis ouvir a voz do corpo; acreditei em superação; dei uma de teimoso e paguei caro.
Quais eram esses sinais ?
1. O corpo ainda reclamava dos 25 km corridos uma semana antes;
2. A panturilha estava sensível;
3. Sentia fortes dores de cabeça, na véspera;
4. Não consegui dormir à noite;
5. Levantei-me de madrugada, cansado de rolar pela cama e ainda com a cabeça dolorida.
Dilema Shakespeareano (essa palavra existe?): "Correr ou não correr? ". Falou mais alto a teimosia. Resolvi correr.
Chovia... Fazia um frio terrível... O corpo pedia repouso; a cabeça exigia movimento. Entrei no carro e parti para o Ibirapuera.
Mais problemas:
1. Quase uma hora na fila aguardando o ônibus da organização que me levaria até o local da largada. Fiquei ensopado. Já não sentia os dedos dos pés e das mãos.
2. Cheguei à arena da largada faltando 10 minutos para início da corrida. Mal coloquei o pé na área reservada para os maratonista e ouvi um "bum". Foi dado o tiro de largada.
3. Não fiz aquecimento nem alongamento.
O congestionamento humano era imenso. Primeiro caminhei, depois, ao passar pelo tapete de largada, comecei a trotar, sempre atento à panturrilha. Nem percebi quanto atravessei a nova Ponte Estaiada. Estava mais preocupado com a barreira humana à minha frente e com a turma que iria correr apenas 5 e 10 km e que gritava "abram! abram!".
No km 3 a panturilha esquerda abriu o bico. Ainda faltavam 39 km. Correr ou não correr? Teimei em prosseguir correndo. Meus batimentos cardíacos estavam na casa dos 173 quando não deveriam passar dos 160. A noite mal dormida começava a cobrar o seu preço. O corpo precisava de descanso e não de uma desgastante maratona.
Km 1 ao 5 (em 0:27:13h) – Os batimentos cardíacos continuaram elevados. A dor na panturrilha aumentava. O desconforto crescia. A teimosia também. Continuei - sofrendo e correndo.
Km 5 ao 10 (em 0:26:33h) – As dores eram intensas. Não pensava mais na prova e sim em alguma estratégia para lidar com a dor. O ritmo já não era constante. Não queria desistir, mas não havia condições físicas para prosseguir. No km 11 senti uma forte fisgada na outra panturrilha. O bom senso recomendava uma parada imediata, mas foram necessários mais quatro quilômetros para que a cabeça cedesse aos apelos do corpo.
Km 10 ao 15 (em 0:26:26h) – Fiz o possível para continuar, mas não dava mais. Dei-me por vencido. Parei após apenas 15 km. Abaixei a cabeça, como se estivesse envergonhado de meu ato, e voltei, lentamente, caminhando do Villa Lobos até o Ibirapuera, sentindo muito frio. Às vezes garoava. Às vezes ventava. Acompanhava-me a dor da desistência que só não era maior que as dores nas panturrilhas.
Hoje, dois dias depois, ainda sinto dificuldades em caminhar. O jeito agora é parar por uns dois ou três meses e depois recomeçar, lentamente.
Que fiasco!
Referências:
1. Foto: Site Runner Brasil - http://www.runnerbrasil.com.br/
Quais eram esses sinais ?
1. O corpo ainda reclamava dos 25 km corridos uma semana antes;
2. A panturilha estava sensível;
3. Sentia fortes dores de cabeça, na véspera;
4. Não consegui dormir à noite;
5. Levantei-me de madrugada, cansado de rolar pela cama e ainda com a cabeça dolorida.
Dilema Shakespeareano (essa palavra existe?): "Correr ou não correr? ". Falou mais alto a teimosia. Resolvi correr.
Chovia... Fazia um frio terrível... O corpo pedia repouso; a cabeça exigia movimento. Entrei no carro e parti para o Ibirapuera.
Mais problemas:
1. Quase uma hora na fila aguardando o ônibus da organização que me levaria até o local da largada. Fiquei ensopado. Já não sentia os dedos dos pés e das mãos.
2. Cheguei à arena da largada faltando 10 minutos para início da corrida. Mal coloquei o pé na área reservada para os maratonista e ouvi um "bum". Foi dado o tiro de largada.
3. Não fiz aquecimento nem alongamento.
O congestionamento humano era imenso. Primeiro caminhei, depois, ao passar pelo tapete de largada, comecei a trotar, sempre atento à panturrilha. Nem percebi quanto atravessei a nova Ponte Estaiada. Estava mais preocupado com a barreira humana à minha frente e com a turma que iria correr apenas 5 e 10 km e que gritava "abram! abram!".
No km 3 a panturilha esquerda abriu o bico. Ainda faltavam 39 km. Correr ou não correr? Teimei em prosseguir correndo. Meus batimentos cardíacos estavam na casa dos 173 quando não deveriam passar dos 160. A noite mal dormida começava a cobrar o seu preço. O corpo precisava de descanso e não de uma desgastante maratona.
Km 1 ao 5 (em 0:27:13h) – Os batimentos cardíacos continuaram elevados. A dor na panturrilha aumentava. O desconforto crescia. A teimosia também. Continuei - sofrendo e correndo.
Km 5 ao 10 (em 0:26:33h) – As dores eram intensas. Não pensava mais na prova e sim em alguma estratégia para lidar com a dor. O ritmo já não era constante. Não queria desistir, mas não havia condições físicas para prosseguir. No km 11 senti uma forte fisgada na outra panturrilha. O bom senso recomendava uma parada imediata, mas foram necessários mais quatro quilômetros para que a cabeça cedesse aos apelos do corpo.
Km 10 ao 15 (em 0:26:26h) – Fiz o possível para continuar, mas não dava mais. Dei-me por vencido. Parei após apenas 15 km. Abaixei a cabeça, como se estivesse envergonhado de meu ato, e voltei, lentamente, caminhando do Villa Lobos até o Ibirapuera, sentindo muito frio. Às vezes garoava. Às vezes ventava. Acompanhava-me a dor da desistência que só não era maior que as dores nas panturrilhas.
Hoje, dois dias depois, ainda sinto dificuldades em caminhar. O jeito agora é parar por uns dois ou três meses e depois recomeçar, lentamente.
Que fiasco!
Referências:
1. Foto: Site Runner Brasil - http://www.runnerbrasil.com.br/
Categoria:
corrida de rua
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3 comentários:
Essa questão da panturrilha deve ser algo de família. Deixei de caminhar por isso.
O médico me disse que meu problema deve ser vascular...
Não seria o seu caso?
Quanto à corrida: acredito que agiu certo, em pelo menos tentar. Eu teria feito o mesmo.
SDS
Não se sinta mal por isso, pois mais vale o fracasso de alguém que pelo menos tentou realizar algo, do que a vergonha daqueles que, por medo ou preguiça, nunca tentaram nada.
E mais, fracasso é uma palavra muito negativa; vamos chamar isto de uma desistência estratégica, nocaute técnico ou abandono de prova por falha mecânica.
Espero que se recupere o mais breve possível.
Parabéns por ser um guerreiro.
Pelo que conheço a seu respeito, ter participado dessa maratona, com certeza, foi a melhor escolha. DESISTIR não faz parte de seu perfil, nem de seu vocabulário.
Parabéns!